A avenida será o Estádio Novelli Júnior, em Itu. O enredo trata da tentativa do São Paulo em reconquistar o título estadual depois de cinco anos.

Em 2005, a agremiação contava com folião tão empolgado e dedicado, daqueles que cantam o samba durante todo o desfile, que resolveu buscá-lo de volta em meio aos bailes de máscaras europeus.

Mesmo ciente de que boa parte do público vai ao sambódromo para ver sua evolução, é dessa forma que Cicinho se vê no São Paulo.

– Eu sou mais um participante e quero integrar a escola campeã.

Para que isso aconteça, o folião de araque – vai passar a folga de carnaval dividido entre amigos, churrasco e pescaria – conhece os atalhos. Afinal, em 2005, conquistou Paulistão e Copa Libertadores.

– O São Paulo pode ganhar nota 10, mas precisa ser 11. Não podemos estacionar, todos buscam a perfeição, mas é difícil chegar a ela. E depois, é difícil se manter – ensinou.

Confira a entrevista exclusiva de Cicinho ao LANCENET!, a primeira em sua volta ao Brasil, concedida após o treino de sexta-feira no CT tricolor.

LANCENET!: Gostaria que você detalhasse seus sentimentos na quarta-feira. Da chegada ao CT, à entrada em campo, os aplausos.
CICINHO: Senti muito prazer. Não esperava que todos gritassem meu nome. Sei do carinho que têm por mim, o que fiz pelo São Paulo, mas acho que nem mereço tudo aquilo. Agradeço a Deus todos os dias por ter me colocado nesse clube mais uma vez.

LNET!: Tinha certeza que entraria?
C: Não. Tive uma conversa com a comissão técnica e ficou decidido que poderia jogar 15 minutos. Meu pai estava no jogo e os torcedores atrás dele diziam que sou pé-quente, pois entrei e o gol saiu logo depois.

LNET!:Você se considera um cara pé-quente, de sorte?
C: Para tudo precisamos de sorte, mas vejo pelo lado da bênção. Fui bem nos clubes e isso é fruto do trabalho, nunca me deixei abater.

LNET!: O Ricardo se assustou quando você disse que gostaria de jogar?
C: Eu disse que estava à disposição. No exame, foi diagnosticado que meu nível de cansaço era pequeno. Quando entrei, fiquei surpreso, mas gostei e faria tudo de novo.

LNET!: Você tem duas chances de ser campeão nessa volta: Paulista e Libertadores. Vai priorizar alguma?
C: Acredito que seja um momento, já que na Libertadores se classificam os seis melhores segundos, então temos de terminar em primeiro. No Paulista passam quatro, há mais chances, por isso essa concentração maior na Libertadores agora. Mas queremos os dois títulos.

LNET!: Você está interado até mesmo das fórmulas dos campeonatos. Acompanhou o São Paulo e as notícias pela possibilidade de voltar?
C: Acompanho há cinco anos em razão do carinho pelo clube. Não gostava de ver futebol europeu, achava estressante porque já vivia aquilo. Agora vou ver menos os times brasileiros. Era bacana ler que o Cicinho podia voltar para o São Paulo.

LNET!: E você leu que não viria mais?
C: Tinha contato com o São Paulo, falei que queria voltar e passei a ser vaiado. Os dirigentes disseram que contavam comigo, outro lateral sairia e eu teria chances. Mas não aconteceu, ficou uma situação chata, liguei para o diretor e falei que era melhor sair do que ficar insatisfeito, sem render. Liguei para o Milton Cruz, perguntei se havia o interesse e prometi fazer de tudo para vir embora. Fizemos um acordo.

LNET!: Você sempre foi fã da música sertaneja. Passou a apreciar outro estilo nesses anos de Europa?
C: Uma vez caipira, sempre caipira. Isso me machucava. Minha esposa (Mirela) ia buscar meu filho (Heitor, hoje com três anos) na escola, almoçávamos, eles iam dormir e eu pegava meu sertanejo, sentava no jardim e olhava para o nada.

LNET!: Então você sentiu solidão?
C: Muita solidão. Resolvemos criar nosso filho sem babá e foi uma experiência bacana. Quando meu filho foi para a UTI, eu operei o joelho. Era ele num quarto, eu em outro. Você chora e sua mãe não vê, sua esposa chora e a mãe dela não vê.

LNET!: Você não recebia visitas lá?
C: Poucas. Meu pai foi uma vez em cinco anos, não gosta de avião. O Doni (goleiro da Roma) não aguentava mais ver minha cara, e eu a dele. Aqui é diferente, você senta com amigos, toma um suco, uma cerveja, uma Coca-Cola. Lá, cada um vai para sua casa. Isso fez muita falta.

LNET!: Quem eram os amigos lá? E os daqui, estão em São Paulo?
C: Juan, Doni, Arthur e Júlio Baptista. O Taddei e o Júlio Sérgio tinham mais amizades italianas. E os amigos estão em Pradópolis (cidade do lateral), mas uns 20 já vieram. Na sexta-feira, dois amigos foram ao hotel, fomos à churrascaria. O pessoal já alugou um ônibus para ir a Itu.

LNET!: O Ricardo Gomes disse que você será titular contra o Ituano...
C: É? Para mim é novidade (risos).

LNET!: É. Ele falou que você aguenta jogar uma hora, pelo menos.
C: 90 minutos. Vou fazer uma forcinha para ficar o tempo todo (risos).

LNET!: O que tem achado do Ricardo? Ele é um bom carnavalesco?
C: Tem de ver na avenida, né? Como treinador é excelente. Quando ele estava no Monaco (FRA) e eu no Real Madrid (ESP), ele queria me levar. Gostei muito do jeito que ele trabalha. Não se estende na preleção, fala pouco, é objetivo.

LNET!: Você, que atuou na Europa, sente que ele tem essa formação?
C: Ele aprendeu muito, tem variações e está mostrando que pode ser campeão. Nós temos de ajudá-lo.

LNET!: E o Rogério Ceni? É o mestre de bateria dessa escola de samba?
C: Nem tem o que falar. Fui muito bem recebido por ele, temos de respeitá-lo, ouvi-lo e jogar sempre ao seu lado. Ele é o Pelé do Carnaval.

LNET!: Você vai enfrentar Ronaldo, Roberto Carlos, Robinho, Adriano, Fred... Vê o futebol brasileiro, hoje, com um certo glamour europeu?
C: Isso faz com que os jogadores queiram voltar. Antes era demérito, hoje pensam mil vezes antes de sair. Só vão porque os clubes precisam de dinheiro. O futebol brasileiro é o mais disputado do mundo.

LNET!: Essa mudança faz com que os torneios sejam mais vistos lá fora?
C: Na Itália gostam muito do futebol brasileiro. A gente acompanhava e via que está mais sério, com mais torcedores. Dava vontade de voltar.

LNET!: No Real Madrid, você jogou com Ronaldo, Roberto Carlos...
C: Zidane, Beckham... Todos eles.

LNET!: E por que não deu certo?
C: O Real é um clube maravilhoso, mas tem muitos problemas internos. Foram muitos treinadores, nenhum deu cara à equipe. Era o Luxemburgo, López Caro, Capello... Ficamos em segundo, nos classificamos para a Liga dos Campeões, mas pelo time que tínhamos...

LNET!: Havia mesmo uma divisão entre os brasileiros e os europeus?
C: Alguns espanhois tinham ciúme. Não de mim, era só mais um. Mas o Roberto Carlos falava para o lateral-direito (Salgado) sobre mim, o capitão (Raul) tinha problemas.

LNET!: Esse clima te assustou?
C: Assusta. No Brasil não há espaço para trairagem, no Real era muita vaidade. O Florentino Pérez (presidente) está tirando isso. Sabe que foi um motivo de sua renúncia.

LNET!: No fim da Copa de 2006, quando o Cafu deixou a Seleção, todos pensavam que você seria o substituto. O que te atrapalhou?
C: A lesão no joelho. Eu e o Maicon fomos convocados pelo Dunga, mas me machuquei e o Daniel Alves assumiu o posto muito bem. Mas procuro não pensar nisso, tenho de criar condições para voltar.