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Ricardinho abre o jogo ao LNET!: 'O futebol gosta muito do boleirão'

Às vésperas do confronto contra o Palmeiras, o treinador e ídolo do Corinthians fala sobre novo desafio e ida para o São Paulo


Na próxima quarta-feira, na Arena Barueri, Ricardinho terá seu maior desafio na ainda curta vida de treinador: vencer o Palmeiras e classificar o Paraná às quartas da Copa do Brasil. Como técnico, ele sabe que é somente mais um, apenas começando. A vitoriosa carreira de jogador ficou para trás. Porém, não foi e nem será esquecida.

O ex-meia recebeu a reportagem do LANCENET! em seu complexo de quadras em Curitiba, antes do primeiro jogo contra o Verdão. Atencioso e sereno, teve simpatia que não condiz com a fama de “traíra” que ganhou quando jogador. Algo que não o incomoda. Segundo ele, sofreu por ser esclarecido, e não do jeito “boleirão”, daqueles que aceitam o que é errado, que o meio do futebol gosta.

Ídolo no Corinthians, até hoje não revela exatamente o porquê de ter ido ao São Paulo em 2002.

Como está a vida de treinador? Qual a diferença para o Ricardinho jogador?
Responsabilidade é muito grande, maior ainda, de comandar. Você vira comandante, não é mais comandado. Por mais responsabilidade e convívio que tenha jogando, tem de respeitar o comando, que tem forma de trabalhar e pensar e você tem de se encaixar. Como técnico você tem sua forma de pensar, de trabalhar e procura montar a equipe com sua forma de trabalho.

Sua carreira de atleta foi completa ou faltou algo?
Saio satisfeito, feliz. É lógico que quando você chega em um nível profissional, quer sempre mais. Terminei satisfeito. Mas queria ganhar uma Libertadores, que não ganhei. O resto, conquistei. Só a Libertadores que não. Agora tenho a chance como treinador, quem sabe essa conquista eu possa ter assim. O futebol nos proporciona isso.

Você teve a chance de ganhar a Libertadores pelo Corinthians e não conseguiu. Qual o problema do time que não ganha nunca?
Acho que ainda não chegou a hora. Quem sabe é esse ano. O que o Corinthians precisa é ganhar uma, a primeira. É difícil ganhar, como tudo na vida a primeira vez é difícil. Mas está buscando. Tem condições. Tem de ganhar a primeira. Nunca foi falta de planejamento, condições, apoio, qualidade... Na época (99/2000 e 06) tínhamos um time muito bom. Sempre teve bons times, mas naquela hora, no momento decisivo, faltava o algo mais, uma atenção a mais para ganhar. Vai acontecer. Quem joga muitos anos seguidos, como São Paulo e Santos, consequentemente ganha um dia.

Há uma pressão exagerada? Acha que o título pode ser agora?
Acho que o Corinthians tem pressão proporcional ao seu tamanho. É assim em cada time. Se a pressão é enorme no Corinthians, é pelo tamanho do clube, a grandeza da torcida. Neste ano, o Corinthians, assim como todos os brasileiros, tem condições. É um time bem arrumado, joga junto faz tempo, tem bons jogadores. Tite é um grande treinador, sabe o grupo que tem, sabe tirar o que o time tem. Tem condições de ganhar essa Libertadores.

E como é sua relação com a torcida? Você foi muito criticado após ir para o São Paulo em 2002...
Sempre fui bem tratado no Corinthians, mesmo quando jogava, depois que eu saí. Teve aquele momento de revolta no início, que é normal, perder um jogador para o rival e eu entendia isso. Mas depois eu voltei em 2006, foi maravilhoso. Foi um reencontro muito legal, prazeroso, importante para mim. Eu precisava daquela volta, tinha esse débito com o Corinthians. Precisava jogar lá de novo, era uma questão pessoal. Sempre sou bem tratado pelos corintianos. Só tenho coisas boas para falar do Corinthians.

Mas se arrepende de ter ido para o São Paulo naquele ano?
Foi uma necessidade. Foi uma decisão, uma necessidade. Uma situação que tinha essa necessidade. Por isso tive essa transferência. Fui muito bem tratado no São Paulo, fiz bons amigos lá, não tive problemas, nem com o elenco, história de salários... A palavra é essa, foi uma necessidade, aconteceu. O importante é que encerrei o ciclo como atleta satisfeito, tudo que fiz foi positivo, com vitórias.

Que necessidade de foi essa?
Foi uma necessidade. Como disse para os meus amigos, se meu filho fosse repórter e um dia me perguntasse, eu jamais falaria para ele, mesmo sendo filho. Foi uma necessidade de todos que estavam envolvidos.

Quem eram os “todos”?
Uma necessidade do momento, algo necessário no momento para todos. Assumi aquela responsabilidade da transferência e vou assumir isso sempre. Assim que tinha de ser. Mas já passou, foi bom para todo mundo, para os clubes, para mim. O importante é que voltei um dia e ficou tudo certo.

Você ficou com uma fama ruim no futebol, sendo acusado de “traíra”. Por que aconteceu isso?
O esclarecimento, em qualquer função, gera mais dificuldade. Principalmente no futebol. Isso é claro. Quando você não consegue ter uma conversa em alto nível, você sempre é visto de forma diferente. Eu vejo isso hoje. Tenho jogadores desse nível no meu time. É extremamente positivo, isso agrega muito. Mas nem sempre o futebol é assim. O futebol gosta muito do boleirão, daquele cara que não pensa tanto, porque é mais fácil esse cara que não tem uma visão das coisas, não tem personalidade para se posicionar, ser envolvido nas situações do dia a dia. É mais fácil, você não tem de explicar muito e o cara entra. O cara que se posiciona, você tem de explicar mais, porque não vai ser fácil de convencê-lo. Ele vai questioná-lo, principalmente se é algo errado. Isso acontece no futebol todos os dias. Tomara que eu conviva na carreira com muitos jogadores assim: esclarecidos, que tenham bom diálogo, porque isso acrescenta.

Acha que faltam jogadores assim hoje em dia no futebol?
Se faltam não sei, mas você vai ter cada vez menos, porque o futebol procura tirar. É mais fácil tirar um esclarecido do que botar para fora dez boleirões, que não se posicionam, que para eles está tudo bem, aceitam tudo. Às vezes você tem vários, mas o próprio cara sabendo disso não se posiciona, se retrai por medo de pagar o preço por isso e acaba entrando nessa também. Mas sou otimista, quem sabe teremos mais e mais jogadores assim.

E quais são essas situações que você diz? Tem muito no futebol?
Ah, sim. É mais fácil você não entender do que ter de tomar uma decisão, questionar. É menos traumático. E o questionamento é de posição, de falar que aquilo não está certo. E para os jogadores assim, não questionar e não se posicionar é mais fácil. Acontece muito isso.

Falando nesses problemas no futebol, você teve um famoso com o Marcelinho em 2001. O que aconteceu de fato? Você fala com ele?
Depois, quando voltei para o Corinthians, ele também voltou. Não falamos faz tempo, mas não teve nenhum tipo de problema, nem vai ter. Sobre o caso já passou, já foi. Éramos atletas, o que tinha de ser, já foi. Isso já passou, estou em outra situação agora. Fiquei muito satisfeito com o que fiz como jogador. Isso deixa para lá. Conquistamos muitas coisas juntos, isso é o que fica. É o que conseguimos proporcionar com aquele time fantástico. É o que todos têm de lembrar, não só de situações ruins, que são normais.

Conseguiu fazer amigos de verdade no meio do futebol?
Alguns, porque o futebol é muito de identificação, jeito de ser, convívio. Mas fiz bons amigos, que ainda jogam até hoje, técnicos também. Tem Edílson, Vampeta, Rincón, Batata, Dida... Kaká, que ainda joga. São vários, que estiveram aqui comigo também, amigos de infância. Futebol traz esse benefício. Você não vai ser amigo de todos, mas tem essa afinidade.

E inimigos?
Não. Os problemas que tive na carreira foram todos superados e todos coisa de momento, porque tinha de ser. Tem coisas que você aceita, outras não, e você tem de se posicionar. Mas encerrei a carreira e continuo sem inimigos no futebol. Vamos ficando mais velhos, tendo outras posições. Às vezes, você tem de tomar uma decisão, que precisa ser tomada. Você não agrada a todos, mas tem de ser tomada.

Você foi campeão da Copa em 2002. Acha que a situação da Seleção hoje é parecida com aquela?
Não sei antes de 70 como foi, mas nas últimas conquistas o Brasil sempre quando foi desacreditado conseguiu reverter e ser campeão. E sempre quando foi com crédito, favorito, que foi bem montado, bem escalado, acabou ficando no meio do caminho. Tinha um grupo excepcional em 2006, trabalho ótimo, mas não venceu. É relativo. Sempre quando teve menos crédito, desconfiança, venceu. Quando foi o contrário, teve dificuldades. Aqui no Brasil, a Seleção vai ser favorita, porque tem de ser colocada assim sempre. Uma seleção com cinco títulos tem de ser favorita, mesmo que as pessoas não acreditem nisso, sobretudo aqui no Brasil. Vai ter a pressão dos torcedores, da imprensa, não tem jeito. É só o que falta, ser campeão aqui no Brasil.

Quem pode assumir o papel de protagonista dessa Seleção?
Neymar é o principal, não só do Brasil, mas da Seleção. É inegável. É um reconhecimento e um merecimento. Ele merece isso. Nós temos dois anos para a Copa. Futebol brasileiro revela todo dia tantos jogadores, que tudo pode acontecer. Como surgiu Neymar, Ganso, que é acima da média, podem surgir outros assim. Independentemente de estar atuando ou não, acho que o Kaká pode ajudar muito a Seleção com sua forma de atuar, a experiência, ele é forte, tem velocidade, finaliza, se movimenta. Pode ajudar muito. São situações que o Mano está definindo.

Mas você acha que o Brasil ainda revela tanto assim?
O Brasil já revelou quantidade, com qualidade. Hoje, revela quantidade, com menos qualidade de anos anteriores. É a realidade.

O que acha do trabalho do Mano no comanda Seleção?
Não é fugindo da pergunta, mas eu me colocaria no lugar do Mano. Acho que hoje vivo uma situação como treinador, a mesma que o Mano. Somos técnicos. Não acharia ético ou normal fazer qualquer colocação ou comentário específico sobre a Seleção. Não seria legal. Ele está trabalhando bem, sabe que a Seleção tem de evoluir e vai evoluir, mas não gostaria de comentar. Não é correto. Prefiro continuar meu trabalho, acompanhar a Seleção.

Como técnico agora, vai continuar como Ricardinho ou quer ser chamado de Ricardo Pozzi?
A preferência é por Ricardinho. sempre foi assim, não tem a necessidade de mudar. Uns falam que é mais bonito ter dois nomes, mas como futebol não é uma disputa de beleza, vou ficar como Ricardinho (risos). Sempre foi assim, não mudo.
Terminei satisfeito. Mas queria ganhar uma Libertadores, que não ganhei. O resto, conquistei.

Principais polêmicas

Ricardinho x Marcelinho
2001 Naquele ano, o ex-meia viveu a maior polêmica de sua carreira. Quando atuavam no Corinthians, Marcelinho Carioca supostamente disse que Ricardinho seria o “traíra” do grupo, que dedurava os atletas ao técnico Vanderlei Luxemburgo. Depois disso, Marcelinho ficou afastado mais de um mês e saiu do clube. Ricardinho permaneceu.

Ida para o São Paulo
2002 No ano seguinte, após um excelente primeiro semestre, foi a vez de Ricardinho deixar o Timão, seguindo para o rival São Paulo, em uma transferência milionária. A saída causou revolta na torcida. No Tricolor, ele não brilhou. À época, dizia-se que teve problemas com o elenco por conta do salário alto, o que o ex-meia nega até hoje.



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