publicidade

Psicólogo de árbitros garante ter reduzido queixas de clubes à FPF

Os confrontos da segunda fase do Campeonato Paulista só foram definidos no fim de semana. Desde setembro de 2011, contudo, Gustavo Korte já prepara alguns dos possíveis classificados para esses jogos: os árbitros. Psicólogo de arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF) há mais de dois anos, ele garante que os clubes do Estado passaram a ter menos motivos para protestar a partir do início de seu trabalho.

“A quantidade de falhas da arbitragem diminuiu sensivelmente. Em 2009, quando eu ainda não estava na FPF, houve 22 reclamações das equipes no Campeonato Paulista. Em 2010, foram apenas três. Em 2011, não registramos nenhuma. O que mudou foi a minha entrada na entidade, desenvolvendo um projeto em conjunto com todo o departamento”, orgulhou-se Gustavo, nesta conversa exclusiva com a Gazeta Esportiva.Net, apesar de a própria FPF ter reconhecido uma série de erros neste ano.

Na temporada passada, uma irritação generalizada do Palmeiras contra o árbitro Luiz Flávio de Oliveira já havia marcado o clássico contra o Corinthians, válido pela semifinal do torneio. Este e outros assuntos mais e menos polêmicos foram abordados por Gustavo Korte (em meio à distribuição de autógrafos para profissionais da arbitragem paulista, durante o lançamento do seu livro “Treino mental – Arbitragem no futebol”) na entrevista registrada abaixo.

O psicólogo Gustavo Korte torcia pelo Santos antes de virar casaca para o time da arbitragem paulista

Gazeta Esportiva.Net: Árbitro não deve torcer por clube nenhum. E o psicólogo do árbitro?
Gustavo Korte: Também não pode (risos). Meu time é a arbitragem.

GE.Net: Você já deve ter torcido por algum time antes de virar casaca para o da arbitragem.
Gustavo Korte: Bom, sou da época do Pelé. Quando moleque, fui santista. Mas nunca me pareci com aqueles torcedores roxos. Diria que eu era mais um simpatizante do Santos. Depois que entrei para a arbitragem, então, deixei isso completamente de lado e passei a torcer só pelos árbitros.

GE.Net: Torcer pelos árbitros é um pouco incomum. Essa “paixão” começou porque você foi árbitro no passado?
Gustavo Korte: Que nada! Eu era jogador e até me acostumei a xingar muito os árbitros (risos). Sempre fui esportista. Participei de várias competições de natação, esgrima, futebol, basquete, handebol... Enfim, tudo o que você possa imaginar.

GE.Net: Por que mudou para o lado da arbitragem, então? Já entrevistei psicólogos do esporte que trabalham com atletas, mas nunca um voltado exclusivamente para os árbitros.
Gustavo Korte: Eu atuava como psicólogo no mundo corporativo, para falar a verdade. Mas, há uns seis anos, pensei em dar uma reviravolta na minha vida e começar a trabalhar com algo que eu realmente amasse. Aconteceu de repente. Eu estava em casa e vi um programa sobre psicologia do esporte na televisão. Nem sabia que isso existia. Pensei em mudar para essa área no mesmo momento. Na época, havia três cursos de pós-graduação no Brasil – um em São Paulo, outro em Minas Gerais e o último no Rio Grande do Sul –, mas todos com inscrições encerradas. Como eu tinha facilidade com idiomas, passei a procurar em outros países. Mandei um monte de e-mails, pensando: “Vou embora do Brasil e me matriculo no primeiro que me chamar”. Lembro até a data: 3 de novembro de 2006.

GE.Net: Não é fácil largar tudo de repente, como você fez. Ainda mais se tiver esposa, filhos...
Gustavo Korte: Eu estava me separando naquele tempo. Tudo ruim e conspirando (risos)! Passei por uma mudança total na minha vida, em todos os sentidos.

GE.Net: Certo. Só não entendi ainda por que você começou a trabalhar com arbitragem (risos).
Gustavo Korte: Vamos chegar lá. Acabei indo para a Universidade Autônoma de Barcelona, que foi a primeira a me aceitar. O meu orientador no curso foi o primeiro psicólogo a fazer um trabalho escrito com árbitros na Catalunha. Além disso, a Prefeitura estava promovendo um projeto de formação nessa área. Três alunos foram escolhidos, e fui um deles, para ajudar no treinamento dos árbitros catalães. Comecei a estudar o dia a dia dos árbitros escolares e percebi que existia um campo enorme ali. Peguei gosto pela coisa. Posso te garantir que os árbitros são apaixonados por aquilo que fazem. Eles realmente amam a profissão, e isso é um ponto de identificação comigo.

GE.Net: E como você foi parar na Federação Paulista de Futebol?
Gustavo Korte: Quando a vida está fluindo bem, as coisas acontecem. Na época em que eu ainda morava na Espanha, alguns amigos me convidaram para ir à Federação almoçar. Por acaso, sentei bem ao lado do Coronel Marinho [presidente da comissão de arbitragem da FPF] nessa ocasião. Começamos a conversar. Contei um pouquinho da minha história, e ele se interessou. Depois de nos falarmos mais duas ou três vezes, ele me disse para fazer uma proposta. Até aí... Todo mundo pode fazer proposta. Mas ele aceitou a oferta. Disse ainda que o meu trabalho deveria ser feito de determinada forma, e estamos aqui até hoje.

GE.Net: Como é esse procedimento de trabalho que você adotou?
Gustavo Korte: Existem os conceitos aplicados em aulas teóricas e também o trabalho em campo, junto dos instrutores técnicos e físicos. A gente cria dinâmicas, exercícios para os árbitros se conscientizarem de tudo o que acontece em um jogo de futebol. Esse trabalho em campo é fundamental. Na hora em que você vivencia uma experiência, sua capacidade de retenção é de 70% a 80%. Se a aula é somente falada, cai para 20% a 30%. A partir de determinado momento, os próprios árbitros passaram a questionar suas atuações e aquilo que ensinávamos.

GE.Net: Já que o trabalho em campo é visto como fundamental, você também acompanha os árbitros nos estádios?
Gustavo Korte: Sim. É nos jogos que a gente vê como está o controle emocional dos árbitros. Sou um observador externo quando estou ali. Vejo como os árbitros estão se sentindo, se estão bem e concentrados. Quando acontece algum problema, falo para eles aquecerem de determinado modo em campo e ensino alguns exercícios. Coloquei um apanhado dessas técnicas no livro que estou lançando agora.

GE.Net: Imagino que você fique entre os torcedores quando vai aos estádios. Como é ouvir os seus pacientes serem constantemente ofendidos durante uma partida? Na condição de psicólogo, você prepara os árbitros para essas situações?
Gustavo Korte: Não preciso. Os árbitros automaticamente se isolam do mundo durante um jogo. É engraçado porque, antes de começar a trabalhar nessa área, eu achava que a torcida exercia uma influência enorme na cabeça da arbitragem. Mas, não. Eu mesmo fui recentemente a um jogo do Santos para observar o árbitro e fiquei completamente desligado das outras coisas. Eles, então, são muito mais preparados para isso.

GE.Net: É sério que você consegue passar toda uma partida de futebol olhando apenas para o árbitro, sem se envolver com o jogo?
Gustavo Korte: Como eu disse, não tenho mais esse negócio de torcer. Gosto de futebol bonito, sim, então até torço pelo time que mais enche os olhos. Nos jogos do Santos... Quer dizer, se estou em uma partida, não importa qual, prefiro o time mais vibrante, espirituoso, criativo e motivado. Por exemplo, fui ver São Paulo contra Mogi Mirim, e o Mogi estava com uma grande garra. Acabei me envolvendo com isso.

GE.Net: Será que você adquiriu esse gosto pelo jogo bonito quando morou em Barcelona?
Gustavo Korte: Pode ser! O Barcelona é sensacional. Torci muito naquela época, pois era um jogo bem bonito. Fui ao estádio várias vezes para acompanhar o Barça. Mas o meu negócio é arbitragem hoje. Vou aos jogos para observar o árbitro, sua comunicação, sua postura, sua forma de falar com os jogadores.

GE.Net: O que ocorre quando o árbitro não satisfaz nesses pontos citados por você?
Gustavo Korte: Todo mundo está sujeito a errar. Costumo dizer para eles que não dá para corrigir um erro. Se erraram, os árbitros devem esquecer e procurar fazer o melhor no momento seguinte, com mais atenção, estando em cima da jogada.

GE.Net: É difícil para um psicólogo combater a chamada “regra da compensação”, em que um árbitro favorece inconscientemente uma equipe após tê-la prejudicado com um erro?
Gustavo Korte: Isso está acontecendo cada vez menos hoje em dia. É claro que, se foi um erro grave, o árbitro necessita de uma força mental muito grande para superar e não ser influenciado. O meu objetivo é treinar isso também. Não dou palestras para os árbitros antes dos jogos, mas a gente geralmente conversa depois. Eles assumem alguns erros para mim, e os ajudo a entender o que aconteceu. É essa tomada de consciência que permite a evolução da arbitragem.

GE.Net: Como psicólogo, você também auxilia os árbitros a superarem problemas além do futebol? Afinal, o rendimento profissional pode ser atrapalhado por dificuldades pessoais.
Gustavo Korte: Faço isso muito pouco. Prefiro me concentrar na atividade em campo, a não ser que eu perceba algo externo que vá influenciar. Mas, já chegando ao meu terceiro ano de Federação, foram só uns dez caras que precisaram de uma instrução individual. Notei algumas diferenças nas respostas deles no questionário que costumamos fazer. Aí, falei: “Quero saber o que está acontecendo”. Resolvemos tudo de uma forma natural, e não vem ao caso expor esses problemas. Como em todas as áreas, a relação do psicólogo do esporte com os árbitros deve ser de confiança. Possuímos um vínculo afetivo, ainda que não sejamos amigos de frequentar as casas um dos outros. Tenho 86% de aprovação do meu trabalho. Sei disso porque faço pesquisas. Assim como recomendo que os árbitros realizem uma autoanálise, também me avalio. Isso faz parte do processo de constante melhora. E você pode ver: enquanto estamos conversando, muitos deles vêm aqui para me demonstrar carinho, pedindo dedicatórias no livro que lancei.

GE.Net: Você só percebe esses problemas particulares através dos questionários?
Gustavo Korte: O meu trabalho é contínuo. Logicamente, a motivação profissional de um árbitro também depende dos treinamentos, de participar ou não de um jogo. Isso afeta o rendimento. Um jogador pode demorar duas ou três rodadas para entrar no clima da competição. O árbitro também precisa desse tempo. Você vê, o Luiz Flávio de Oliveira apitou só uns três jogos do campeonato até agora.

GE.Net: Como o Luiz Flávio está lidando com essa “geladeira”?
Gustavo Korte: Não é só ele. Outros árbitros também estão passando por isso. Faz parte do sistema. Mas, de certa forma, é algo que afeta a motivação do árbitro.

GE.Net: Você faz algum trabalho diferenciado nesses casos?
Gustavo Korte: Normalmente, não. Citei um caso para você como Gustavo, e não como psicólogo da FPF. Fico imaginando o que um árbitro pensa ao não sair de casa para apitar um jogo. Quais sãos os efeitos disso? Profissionalmente, preciso deixar os árbitros em situação de bem-estar, para que eles possam render mais.


Luiz Flávio de Oliveira deve estar incomodado com a "geladeira", de acordo com o psicólogo da FPF

GE.Net: O Paulo César de Oliveira, irmão do Luiz Flávio, envolveu-se em uma grande polêmica com o Palmeiras nas semifinais do Campeonato Paulista do ano passado.
Gustavo Korte: Acompanhei de perto o problema. Para mim, ficou claro que essa pressão feita antes do jogo contra o Corinthians afetou muito mais os próprios atletas do Palmeiras. Eles estavam bem mais focados no árbitro do que no clássico. Talvez até tivessem um time melhor na ocasião, mas não conseguiram desenvolver um bom futebol diante daquilo que se criou. Já o Paulo é um cara bastante experiente, que não se deixou influenciar.

GE.Net: Você orientou o Paulo César para aquele clássico?
Gustavo Korte: Houve uma preparação psicológica, sim. A gente sabia que seria um jogo repleto de pressão. Mas, como eu disse, o Paulo é um cara maduro, que se saiu bem. Já o Palmeiras...

GE.Net: O Palmeiras não quer que o Paulo César seja novamente escalado para apitar seus jogos. Você acha bom que um árbitro também seja preservado de partidas de determinados times, para evitar confusão?
Gustavo Korte: Isso é indiferente. O árbitro quer sempre apitar. Não importa o jogo. Arbitragem também é adrenalina, paixão. Os profissionais não estão preocupados com os times em campo, e sim em fazer o melhor.

GE.Net: Sei que não é da sua alçada, mas o árbitro Sandro Meira Ricci foi escalado para trabalhar no jogo entre Santos e Internacional, pela Copa Libertadores da América, apesar do processo movido contra o Neymar.
Gustavo Korte: Isso também é algo que não deve interferir na arbitragem. Não conheço o Sandro, então não posso falar muito, mas acho que não tem ligação uma coisa com a outra.

GE.Net: Você elogiou a experiência do Paulo César. Mas, neste ano, a Federação está apostando em muitos árbitros jovens. Altera algo em seu trabalho?
Gustavo Korte: Não, já que sempre trabalhei com todos os árbitros da FPF. São quase 600, entre jovens e experientes. Começo a instruir o quadro da A1 em setembro e termino em janeiro. Depois, faço o mesmo com os árbitros das outras categorias até o final do ano. Nesse ínterim, promovo uma reavaliação constante do que aconteceu para corrigir eventuais erros do planejamento. Desenvolvo tudo com os instrutores técnicos da FPF. Antes de cada temporada, definimos o tipo de árbitro que queremos, o que ajustar.

GE.Net: O que vocês queriam ajustar para 2012?
Gustavo Korte: Critérios. A cobrança é para que os árbitros da Federação tenham uma uniformidade em suas decisões. Se a falta foi considerada grave e passível de cartão, deve ser assim para todos os jogos e jogadores.

GE.Net: O que mais precisa evoluir na arbitragem?
Gustavo Korte: Existe um grande problema de comunicação. Isso é essencial para o trabalho em equipe. O mesmo vale para a arbitragem. É preciso aprimorar a conversa entre os envolvidos no jogo de futebol.

GE.Net: Fala-se muito sobre a profissionalização da arbitragem como solução para os erros. Você concorda?
Gustavo Korte: Vou dar a minha opinião novamente como Gustavo, e não como psicólogo da Federação. Acho que a profissionalização é um processo muito complicado. O futebol é um mundo que envolve bastante dinheiro, com todos querendo vencer – menos os árbitros. A arbitragem recebe um valor fixo para trabalhar, independentemente se for bem ou mal. Um árbitro não tem interesse em falhar. Se ele errar, é até pior, pois corre o risco de ficar afastado. Já o Neymar pode perder um gol, que terá outra chance de marcar na sequência. Por isso, ainda vejo o árbitro como um personagem distinto do jogo, que deve atuar à base da paixão pela sua atividade. Entrei em contato com outros países, e a situação é igual. Os Estados Unidos, por exemplo, só têm dois árbitros registrados. O restante recebe por jogo que apita, assim como no Brasil. Em São Paulo, 96% dos árbitros têm outra atividade além da arbitragem. Lancei o meu livro para instruir esse pessoal, para dar um amparo psicológico para cada um.
GE.Net: Pelo que vi, seu livro funciona como um manual. Pretende desenvolver ainda mais os conceitos que publicou?
Gustavo Korte: O livro é realmente um manual. Serve para os árbitros folhearem antes dos jogos, absorvendo melhor o que ensinei. Um árbitro do interior até comentou comigo que estava levando o livro para o vestiário. Isso é legal. Espero aprimorar esse conhecimento, até porque estou realizando o meu doutorado na Finlândia, e expandir para outros lugares. Já fiz pré-temporada no Paraná, por exemplo. A CBF tem a sua própria psicóloga de arbitragem, a Marta [Aparecida Magalhães de Sousa], uma excelente profissional. Ela tem uma linha diferente da minha, mas que também funciona, então está tudo bem. Somos como os jogadores: cada um tem seu estilo.
GE.Net: Qual é o estilo de arbitrar que mais te agrada: austero, conversador, discreto...?
Gustavo Korte: O árbitro não pode ser notado. Se tiver feito isso, seu trabalho foi excelente. É uma figura completamente diferente da do jogador, que precisa aparecer. O árbitro deve desaparecer. Quando o jogo está do jeito que ele gosta, deixa correr. Do contrário, prende.

GE.Net: Quem é o melhor árbitro paulista?
Gustavo Korte: Ah... É difícil dizer. Temos uma equipe com perfis diferentes. Nossos árbitros são treinados para apitar em todas as circunstâncias. Em algumas horas, eles não estão bem. Chegarão às finais dos campeonatos aqueles que estiverem atravessando o melhor momento.


VEJA TAMBÉM
- Veja a provável escalação do Tricolor para o jogo de hoje
- Veja como assistir Águia de Marabá vs São Paulo ao vivo
- São Paulo e Palmeiras empatam sem gols em clássico ruim no MorumBis


Receba em primeira mão as notícias do Tricolor, entre no nosso canal do Whatsapp


Avalie esta notícia: 2 1

Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro a comentar.

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui.
  • publicidade
  • publicidade
  • + Comentadas Fórum

  • publicidade
  • Fórum

  • Próximo jogo - Copa do Brasil

    Qui - 19:30 - Estadual Jornalista Edgar Augusto Proença -
    Águia De Marabá
    Águia De Marabá
    São Paulo
    São Paulo

    Último jogo - Brasileiro

    Seg - 20:00 -
    images/icon-spfc.png
    São Paulo
    0 0
    X
    Palmeiras
    Palmeiras
    Calendário Completo
  • publicidade
  • + Lidas

  • publicidade