Fátima admite ter vontade de pegá-lo no colo quando alguém o critica

São 3 horas da manhã e dona Fátima escuta o comentário: “Tô com uma fome!”. Ela oferece um lanche. “Não, queria arroz e bife, mesmo.” A resposta é invariavelmente a mesma. A mãe do craque Lucas, do São Paulo, vai para a cozinha e providencia o jantar para o caçula. Mas, para quem acha isso sinal de mimo, dona Fátima apresenta logo sua justificativa. Após três anos com o filho morando longe de casa — no CT da base do São Paulo, em Cotia — e com a agenda dele cheia de compromissos pelo Tricolor e pela seleção, poder proporcionar alguns agrados ao garoto de 19 anos é um privilégio.

Para ela, Lucas é paparicado em casa, mas não o considera mimado, porque ele já morou fora e tem responsabilidade.

Lucas enfrentou recentemente sua maior polêmica desde que subiu para o time profissional, em 2010. Após o jogo de ida contra o Independente-PA, pela Copa do Brasil, Leão criticou o individualismo do ataque tricolor. Via Twitter, Lucas disse não saber mais como agradar, porque era criticado tanto se partia para cima, como se tocava de lado.

O camisa 7 afirmou não ter se referido ao técnico e este resumiu assim a situação: “Lucas é um bebê para o futebol. Tem muito o que aprender.”

Situação esclarecida, o meia-atacante aproveitou os dois últimos jogos para mostrar que, dentro de campo, já atingiu a maioridade. E arrancou elogios até mesmo de Neymar na vitória de domingo, por 3 a 2, sobre o Santos, no Morumbi.

Apoio/ Se impõe respeito em campo, para os pais, Lucas continua sendo o “Luquinha”. Um garoto que já foi muito arteiro, mas já se encontrou.

“Ele era muito arteiro. O futebol o consertou”, diz Fátima, feliz pela maturidade que percebe no filho. “Eu admiro a forma como ele encara as coisas. Temos de ser profissionais. Algumas coisas, às vezes, nos chateiam e precisamos saber o momento de falar sobre elas. Mas tudo faz parte do aprendizado e quem persegue um objetivo precisa manter a cabeça fria e mostrar do que é capaz.”

O pai de Lucas, Jorge Rodrigues, também se esforça para que o filho receba o respaldo da família. Apesar de o jogador ter um agente, seu Jorge acompanha tudo de perto. “A gente vê muito jogador que se perde por não ter isso. Dos que começaram com ele, conto nos dedos quantos continuam. Procuro ler os contratos e orientar.” Também cabe a seu Jorge administrar as finanças do jogador que, todo mês, repete a mesma piada. “Ôpa, meu pai já depositou a mesadinha.”

Entrevista
Fátima Moura_
Mãe de Lucas

‘Tem horas que quero colocá-lo no meu colo’

DIÁRIO_ O Lucas é mimado ?
FÁTIMA MOURA_ Não. O Lucas morou três anos fora de casa e se virava sozinho. Hoje, ele é paparicado porque é o mais novo da família e passou tanto tempo longe. Às vezes, surge uma certa saia justa porque todo mundo pergunta por ele, mas, para mim, meus dois filhos são iguais.

Eles são muito unidos?
Sim. Não jogam mais videogame juntos, só quando eram criança. Hoje, eles jogam carta, assistem a filmes. Mas passam pouco tempo juntos porque o Lucas está sempre treinando e, à noite, estuda inglês.

E como é o Lucas em casa?
Tranquilo, mas bastante palhaço. Gosta de contar piada e me faz rir muito. Ele não é de ficar sozinho, quer sempre conversar e gosta de reunir a família.

Então, agora dá para paparicar bastante...
Trabalhei muito tempo em salão, mas agora abri mão de trabalhar fora para poder cuidar mais dos meus filhos. Mas ele para pouco em casa.

Você é ciumenta com ele?
Sou, sim! (rindo). Olho no Facebook, na internet. Mas acabo fazendo amizade com as meninas. Elas respeitam, uma ou outra me chama de sogrinha. Mas este é o caminho. Respeito o espaço dele, mas a gente não pode dar sopa para o azar.

Recentemente, o Leão disse que o Lucas é um bebê no futebol. Vocês o veem assim?
Ainda o vejo como um bebezão. Ele cresceu tão rápido, mas tem horas que eu quero colocar ele no colo porque é tanta responsabilidade... Eu fico emocionada, principalmente, quando ele está na seleção. Fico feliz porque foi o que ele sempre buscou e está conquistando tudo agora.

Entrevista
Jorge Rodrigues_
Pai de Lucas

‘Como pais, nós nos preocupamos em dar suporte’

DIÁRIO_ O Lucas é mimado?
JORGE RODRIGUES_ Não vou dizer mimado, porque quando ele morava no CT, em Cotia, era por conta dele. Mas, como pais, nós nos preocupamos em dar um bom suporte para ele.

Vocês acham isso importante para jogadores jovens?
Fundamental porque, se não tiverem respaldo da família, deslumbram demais.

Qual a maior preocupação do senhor em relação a ele?
As marias-chuteiras, né? Eu e a mãe dele sempre o alertamos sobre isso e as amizades. Mas, quanto a isso, estou feliz. Sei que ele tem boa cabeça.

Nas últimas semanas, ele enfrentou o momento mais delicado desde que subiu para o profissional, com a polêmica envolvendo Leão. Vocês falaram sobre isso?
Ele soube lidar com a situação. Na verdade, não passou de um mal-entendido. Poucas pessoas o criticam, mas ele tem de entender que é preciso existir a crítica para a gente evoluir.

Leão disse que precisa orientá-lo porque o Lucas tem muito a aprender, por ainda ser um bebê para o futebol. Você também pensa assim?
O Leão não falou por mal. Foi uma coisa legal, para o bem dele. E, realmente, ele é o nosso bebezão mesmo. Todo filho é assim para os pais.

Ele começou cedo no futebol, foi uma escolha dele?
Todo pai é um jogador frustrado e, quando vê potencial no filho, quer desenvolver. O futebol está no sangue de toda criança. Quando ele tinha 10 anos, estava muito sacrificante, para mim, levá-lo aos treinos. Aí lhe perguntei se era mesmo o que ele queria. Ele chorou e respondeu: “Eu só sei jogar futebol. O que mais vou fazer?”