"Vocês querem falar da minha carreira? Mas vai ter polêmica?", pergunta Sandro Hiroshi, mostrando a desconfiança que o acompanha há 13 anos e sai à tona sempre que um repórter o procura.

Não por menos. Apontado como revelação do Paulista de 1999, quando foi vice-artilheiro pelo Rio Branco, tornou-se pivô do mais famoso caso de adulteração de idade do país pouco depois.


Gabo Morales -15.fev.12/Folhapress
Sandro Hiroshi no estádio de Americana, onde iniciou a carreira

Aos 14 anos, quando foi levado ao clube do interior para fazer testes, falsificou sua data de nascimento: de 19 de novembro de 1979 para o mesmo dia, mas de 1980.

"Foi por causa de 40 e poucos dias. Fiz isso para jogar um torneio sub-14, televisionado, mas de que só podiam participar atletas nascidos a partir de 1980", conta, aos 32 anos e de volta ao clube em que foi revelado, hoje na terceira divisão paulista.

Ele, porém, esforça-se para assumir toda a responsabilidade pela fraude, descoberta em outubro de 1999 pela Folha, quando Hiroshi já era atleta do São Paulo.

"O Rio Branco não teve culpa. Fiz antes de chegar aqui", afirma. "Mas uma criança de 14 anos não pensa nisso sozinha. Alguém deve ter te falado que valia a pena", insiste a reportagem.

"Aí você vai precisar contratar um investigador para descobrir", esquiva-se.

"Isso me incomoda. Já se passaram 13 anos e são as mesmas perguntas. Eu tenho as mesmas respostas", diz Hiroshi, que diz tentar ajudar garotos a evitarem seu erro.

"[Jogar futebol] era meu sonho. Tinha muita gente que fazia isso, que mudava [a idade] para fazer testes. Eu não pensei nas consequências. Hoje, quando falo com garotos, dou meu exemplo. Digo para seguirem o sonho, mas para não fazer o que eu fiz."

Suspenso por 180 dias, Hiroshi ainda passou por Flamengo, Figueirense, Guarani e pelo futebol sul-coreano. E não justificou a expectativa criada no Rio Branco.

INTERESSES

Apesar de não admitir, Hiroshi demonstra mágoa quando perguntado se teria se sentido usado por outras pessoas em busca de interesses maiores. O escândalo em que se envolveu, não só pela fraude, mas também por problemas em seu registro, livraram o Botafogo de um rebaixamento no Brasileiro-99.

O time carioca recuperou na Justiça os pontos perdidos em derrota para o São Paulo, que teve Hiroshi na equipe.

"Envolveu outros times, pontuação, a coisa ficou maior. Mas já se passaram tantos anos, acabou. Eles perderam para nós, em campo, por 6 a 1. Acho que o São Paulo não deveria ter sido punido, mas cada um sabe o que faz. Aconteceu, agora não volta mais", conclui.