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Gestão desastrada

Por : Emerson Gonçalves


No começo a culpa era de Muricy. O São Paulo não ganhava a Libertadores por culpa de seu treinador, castigado com a fama tão tola quanto falsa de “não saber jogar mata-mata”. E Muricy foi demitido. Pobre Muricy…

Depois a culpa de tudo passou a ser de Ricardo Gomes, um profissional tido como muito educado, muito fino, sem controle sobre o grupo y otras tonterías más. Para alegria geral, Ricardo foi demitido. Pobre Ricardo…

Veio Paulo Cesar Carpegiani e claro que a culpa de tudo passou a ser dele, nada mais óbvio que isso. Para felicidade geral da nação tricolor Carpegiani foi demitido. Pobre Carpegiani…



Durante esse período, Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, continuou mandando e decidindo tudo, sozinho, como sempre, com seu auxiliar direto, Milton Cruz, no que diz respeito às contratações de jogadores. Algumas “dúzias” de atletas foram contratadas, muitos deles com salários altíssimos, e de todos que vieram, pode-se dizer, a muito custo e com enorme boa vontade, que três foram aproveitados: Xandão, Fernaninho e Rodrigo Souto – este último numa troca sem nenhum sentido ou visão por Arouca. Mais recentemente, por indicação do ex-treinador Carpegiani, veio Rodolfo, outro jogador que pode ser aproveitado. Estou sendo generoso e otimista ao relacionar como boas as contratações de Xandão e Fernandinho, que fique claro, embora considere-as como corretas – os grandes clubes devem contratar as revelações que surgem no futebol brasileiro e dar-lhes a chance de mostrar serviço.

Foi também nesse período que Juvenal Juvêncio, com o apoio e serviço profissional do advogado e ex-presidente Carlos Miguel Aidar, deu o que eu chamo de golpe no espírito e na letra do Estatuto do clube e reelegeu-se pela segunda vez. Na minha opinião, Juvêncio é presidente do São Paulo por conta de uma chicanice, nada mais que isso.

Ordeira e obedientemente, o Conselho Deliberativo do clube sacramentou a manobra jurídica e pronto, o presidente foi reeleito.

Durante sua gestão, a oposição foi quase eliminada no clube. Muitos desistiram, cansados. Muitos foram cooptados – uma vaga nobre no estacionamento e uma carteirinha de diretor de alguma coisa conseguem operar verdadeiros milagres. Meia dúzia resistiu e vem resistindo, bravamente.

Esse deserto criado pelo presidente tricolor é o melhor símbolo de sua gestão monocrática.



Em “Os sete pecados capitais nas organizações”, Lucia Monteiro assim define a soberba ou orgulho:

É a “sensação de que “Eu sou melhor que os outros” por algum motivo. Isto leva a ter uma imagem de si inflada, aumentada, não correspondendo à realidade. Surge com isso a necessidade de aparecer, de ser visto, passando inclusive por cima de padrões éticos e vendo os outros colaboradores ou colegas minimizados. Podemos criar a imagem de pavões relacionando-se na empresa o que certamente trás resultados desastrosos. Podemos citar o exemplo de gestores que tomam determinadas decisões por questões de orgulho pessoal, ferindo muitas vezes as metas organizacionais, com o único objetivo de dar vazão a este sentimento.”

A definição descreve com perfeição o presidente são-paulino e também muitos outros membros de proa do mundo do futebol, como Ricardo Teixeira, presidente da confederação nacional de futebol e presidente do comitê responsável pela Copa do Mundo de 2014. Sua recente entrevista para a revista Piauí é uma verdadeira obra-prima como exemplo de soberba.


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Curiosamente, ou não, Juvêncio e Teixeira são desafetos. O sonho juvencista de ver o Morumbi abrigando a abertura da Copa do Mundo foi torpedeado por Teixeira. Sobrou a conta gigantesca para os contribuintes paulistanos, mas essa é outra história, para outro dia.



Daria para encher páginas e páginas sobre essa desastrosa gestão do São Paulo, já abordada aqui em diferentes momentos, mas vou ater-me à questão do treinador e do futebol.

Antes da contratação de Carpegiani, Juvenal Juvêncio ouviu alguns de seus companheiros. Sentados num restaurante, batendo papo, ele pediu alguns nomes. Dunga foi o preferido (cruz credo…), numa lista que contou com Scolari, Cuca (de novo?), Autuori (sempre, a saudade enganosa do passado é uma doença). Indicações vazias, pois o presidente decide sozinho e faz apenas o que bem entende.

Citei essa historinha para entar nesse tópico: essa conversa e esses nomes jogados na mesa é uma coisa muito boa, muito legal, quando as cadeiras ao redor da mesa estão ocupadas por torcedores do clube, cada um dando seu palpite sobre o treinador que gostariam de ver no comando do time.

Bem diferente deve ser, na minha visão, o comportamento de uma direção do futebol de um clube de grande porte e importância. A escolha de um novo treinador deve ser feita com extremo cuidado, deve ser muito bem pensada, a escolha do profissional deve encaixar-se com o perfil do clube, com o projeto que esse tem para o futebol. O ideal é ter uma lista de candidatos que preencham as exigências e esses devem ser entrevistados, até que se chegue a uma decisão final.

Feito isso, é mais que óbvio que esse profissional assuma as rédeas do futebol e tenha tempo e respaldo para mostrar seu trabalho.

No Brasil, porém, isso não passa de um sonho de uma manhã de inverno.

Essa questão já foi abordada em outro post desse OCE e voltará a ser objeto de outro, quando pretendo detalhar um pouco melhor os antecedentes da escolha de Guardiola pelo Barça.

Desde o começo era claro que Ricardo Gomes e Paulo Cesar Carpegiani não eram os nomes mais indicados para a direção técnica do São Paulo. Não foram adiante. Todavia, quando se tem uma direção que tudo centraliza e tudo decide, em todas as áreas, fica difícil imputar a esses profissionais alguma culpa pelo fracasso de seus trabalhos.

A culpa, claramente, não é do treinador, e sim de quem o escolheu.

Não pela escolha, ou também por ela, mas sobretudo pelo fato do mesmo dirigente ser o responsável pelos atletas à disposição do treinador.

Então, o São Paulo está na situação em que está hoje por culpa única e exclusiva de seu presidente. Não estou me referindo somente ao futebol, mas também à situação de isolamento do clube diante de seus co-irmãos e nas federações. (E antes que atirem pedras: as federações são tão mal dirigidas quanto o clube, e o mesmo pode-se dizer de vários outros clubes. O saco de onde veio toda essa farinha é muito grande.)

Pode vir o treinador que for, mas não acredito em grandes mudanças. Porque falta projeto ao São Paulo FC, falta comando democrático, falta recriar algo parecido ao que existiu na gestão de Marcelo Portugal Gouvêa, da qual Juvenal foi o diretor de futebol. O clube tem uma estrutura fantástica, ainda a melhor de um clube sul-americano, mas ela sozinha não pode segurar tudo por muito tempo.

Bem sei que Juvenal Juvêncio fez boa gestão até dezembro de 2007 e já elogiei-o diversas vezes. Talvez, em nome desse passado, fosse o momento de abrir mão de sua presidência e deixar o Conselho Deliberativo convocar nova eleição.



Em tempo: recebi há minutos a informação que o TJSP anulou a eleição de Juvenal Juvêncio. Tão logo tenha mais e melhores informações volto ao tema.

Emerson Gonçalves

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