O meia Lucas apareceu no saguão do hotel onde a seleção brasileira está concentrada em Campana, para disputar a Copa América, com uma feição sonolenta e os tênis desamarrados. O jogador do São Paulo passou a maior parte do tempo em seu quarto após o frustrante empate sem gols do Brasil com a Venezuela, no domingo. O passatempo na segunda-feira de folga foi assistir a filmes de dança.

Robinho mostra insatisfação por ser substituído
Lucas deve ser titular da seleção brasileira?

Embora seja fã de hip hop, Lucas não tem a mesma desinibição da maioria dos seus ídolos da música. O meia falou baixo durante toda esta entrevista, concedida com exclusividade à Gazeta Esportiva.Net, e ficou com as mãos inquietas nos bolsos, nas coxas, nos braços e até nos ombros. Não quis entrar em polêmica com o extrovertido atacante Robinho (que se incomodou por ser substituído com frequência pelo técnico Mano Menezes), porém se colocou definitivamente na disputa por uma vaga no time titular do Brasil.

Arrepiado ao ouvir o seu nome gritado por torcedores em todos os últimos resultados frustrantes da seleção, Lucas pretende convencer Mano que é a solução para a equipe voltar a jogar bem ainda na primeira fase da Copa América. Para o São Paulo, ele já tem feito bastante falta. Foi com agonia que o novato assistiu à goleada por 5 a 0 sofrida para o Corinthians (seu clube nas categorias de base, quando ainda era chamado de Marcelinho), enquanto se preocupava em aperfeiçoar o castelhano em meio à estadia na Argentina - já atento a uma possível futura transferência para o futebol espanhol.


Helder Júnior/Gazeta Press


Gazeta Esportiva.Net: Pensei que seria um pouco mais difícil te encontrar no hotel da seleção brasileira em um dia de folga. Não quis passear um pouco?
Lucas: Preferi descansar. Quando voltamos do jogo, assisti a um filme no quarto. Dormi até tarde, almocei e, acabando esta entrevista, voltarei para o quarto para ver mais um filminho.

GE.Net: Qual filme você assistiu?
Lucas: Nem sei o nome, mas era um filme de dança. Adoro esse tipo de filme, apesar de não saber dançar nada.

GE.Net: Nem um tango?
Lucas: Tango?

GE.Net: Tango. Estamos na Argentina...
Lucas: Tango, não! Não pode! Meu negócio é dança de rua, hip hop. Sem essa de tango, pelo amor de Deus [risos]!

GE.Net: Mas assistir a filmes de dança de rua não dever ser a sua única distração na Argentina. Como está o entrosamento com o restante da seleção?
Lucas: Esse grupo é excelente. Fui muito bem acolhido por todos. É claro que eu já tinha uma amizade de longa data com o Neymar, mas o Daniel Alves também me trata muito bem, assim como o Lucas Leiva, o Robinho, o David Luiz...

GE.Net: Quem pega mais no pé do pessoal?
Lucas: O Robinho! Ele não deixa ninguém em paz nunca [risos].

GE.Net: Depois do empate com a Venezuela, o Robinho estava mais sério, incomodado. Disse que não gosta de ser substituído. Você leu essa declaração em algum lugar?
Lucas: Não fiquei sabendo. Na verdade, nenhum jogador quer sair do time. Todos estão loucos para jogar, para ir atrás do título. É normal que o Robinho não tenha gostado.

GE.Net: Se depender de boa parte da torcida, é você quem deve entrar no time. Seu nome foi gritado pelo público nos três últimos jogos do Brasil.
Lucas: Poxa, é muito gratificante ver que conto com o carinho do torcedor. Até fico arrepiado quando ouço gritarem o meu nome. Isso me deixa muito feliz quando estou no banco de reservas, com vontade de entrar em campo e corresponder. Sei que preciso retribuir esse apoio e justificar a minha presença na seleção brasileira.

GE.Net: É possível ganhar uma vaga no time titular ainda na primeira fase da Copa América?
Lucas: Sim. Todo mundo está aqui para jogar. Ninguém pode ficar acomodado com o banco de reservas.

GE.Net: No Campeonato Sul-americano Sub-20 que a seleção brasileira ganhou recentemente, você fez uma boa parceria com o Neymar. Essa dupla daria certo também contra rivais profissionais?
Lucas: É claro! A gente tem tudo para dar certo. Ainda mais com um jogador inteligente como o Ganso ao lado. Tudo depende de entrosamento.

GE.Net: Como vocês, que são mais jovens, encaram uma Copa América?
Lucas: Com uma expectativa enorme. No meu caso, já fico muito feliz de estar aqui com apenas 18 anos. Não posso reclamar de nada. Alcancei o meu objetivo. O próximo é brigar pelo meu espaço, mas de forma sadia, mostrando um bom trabalho para levar o título para o Brasil.




GE.Net: A seleção brasileira conta também com alguns veteranos, como o Júlio César, o Lúcio e o próprio Robinho.
Lucas: E eles conversam bastante comigo para acertar posicionamento, para me pedir para carregar menos a bola nos gramados ruins e outras coisas mais. Procuro sempre ouvir os mais velhos.

GE.Net: Com todo esse foco na Copa América, sobra tempo para acompanhar o São Paulo?
Lucas: Fico muito ligado, através da internet. O time foi derrotado nos últimos dois jogos, infelizmente, mas ainda estamos bem na tabela, na segunda posição. Torço para seguirmos assim.

GE.Net: O São Paulo sente muito a sua ausência?
Lucas: É complicado. Mas, contra o Corinthians, foram vários desfalques além de mim. Isso atrapalhou bastante. Ainda mais porque era o Corinthians, um time grande, jogando no Pacaembu.

GE.Net: Como você viu essa goleada que o Corinthians aplicou no São Paulo, por 5 a 0?
Lucas: Assisti pela internet, na concentração do Brasil. Torci bastante pelo São Paulo e fiquei agoniado a cada gol sofrido. Quando o Carlinhos Paraíba foi expulso, as coisas ficaram muito difíceis. O Corinthians tem muita força dentro do Pacaembu. Mas goleada faz parte do futebol. Acontece.

GE.Net: O São Paulo contratou o Cícero, que estava no Wolfsburg, para te ajudar na armação de jogadas. Você já teve algum contato com ele?
Lucas: Ainda não conversamos. Só li na internet que ele foi contratado. Fiquei sabendo que é um bom jogador, que teve uma passagem interessante pelo Fluminense. Particularmente, não o conheço. O que importa é ele chegar para ajudar o Tricolor.

GE.Net: Por quanto tempo você também colaborará com o São Paulo? Já pensa em atuar na Europa?
Lucas: É um projeto. A gente deve ter planos nas nossas vidas. Não sou diferente de nenhum jogador: sonho em jogar no futebol europeu. Mas isso pode acontecer mais para a frente, pois ainda quero fazer história no São Paulo antes de construir a minha vida na Europa.

GE.Net: O futebol de qual país se adequa mais ao seu estilo de jogo?
Lucas: Todo mundo sabe que o foco do futebol mundial é a Espanha. Mas eu também iria para Itália, Inglaterra...

GE.Net: Barcelona ou Real Madrid?
Lucas: O melhor time da atualidade é o Barcelona. Seria uma honra jogar lá no futuro. O Real Madrid também é um grande clube. Mas o São Paulo vem primeiro.

GE.Net: Já começou a exercitar o espanhol aqui na Argentina?
Lucas: Que nada! Mas percebi que preciso fazer umas aulinhas quando voltar ao Brasil. É importante aprender outros idiomas.

GE.Net: Quando o funcionário do hotel telefonou no seu quarto, para avisar que a nossa equipe estava aqui para fazer esta entrevista, você conseguiu entender o espanhol dele com facilidade?
Lucas: Nada, nada! Eles falam muito rápido. Estou sofrendo com isso. Se só dependesse dessa parte, não tinha entrevista. Mas, aos poucos, a gente vai pegando o jeito com o espanhol [risos].