Completam-se nesta quinta-feira, dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, cinco anos desde que Telê Santana morreu com 74 anos em decorrência de infecção abdominal no intestino grosso. Ídolo de São Paulo, Atlético-MG e Fluminense, o técnico, porém, se afastou do futebol em 1996, há 15 anos, período em que o esporte passou por mudanças em campo e fora dele. Para atuais técnicos que trabalharam com Telê, o antigo comandante enfrentaria problemas se ainda estivesse na ativa, mas manteria o jogo bonito, característica de seu trabalho.

"O Telê era um cara que via as coisas erradas e não ficava quieto, ele falava mesmo e reclamava demais", explica Muricy Ramalho, ex-assistente técnico de Telê no São Paulo e atual técnico do Santos em entrevista ao Terra.

"Isso eu deixei de lado, não faço, faz dez anos que não me tiram de campo, não é meu estilo sair reclamando. Agora ele brigou muito", lembra. "Nos dias de hoje ele ia sofrer, pois os árbitros são mais rigorosos. Do jeito que ele era, nos dias de hoje ele ia ser mandado para fora de campo várias vezes", comenta Muricy.

Ex-volante e atual técnico do Linense, Pintado, que foi treinado por Telê no São Paulo no início da década de 1990, tem opinião similar com a do treinador do Santos, acreditando que seu "professor" manteria o humor ranzinza. "Ele teria muito problema. Por ser um cara muito profissional, ele iria perceber que tem muita coisa ficando no meio do caminho. Algumas situações profissionais estão sendo invertidas. Ele iria continuar sendo ranzinza, mas pelo lado bom das coisas", explica.

"Vejo muita gente trabalhando sem objetivo, às vezes como pouca responsabilidade com o horário, o descanso, com o lado profissional da coisa. Isso o 'Seu Telê' não deixava acontecer", comentou, demonstrando respeito e carinho pelo antigo mestre. "O Telê nunca tratou com diferença nenhum jogador. Para ele não tinha estrela. Os empresários não tinham muita brecha com ele. Isso ele deixou muito claro para nós", afirmou Pintado.




Apesar dos possíveis problemas que enfrentaria, Telê Santana seguiria pregando o futebol bonito. Isto é o que creem seus discípulos. "Ele se sairia bem, porque sempre trabalhou em time de ponta. Os times estão se preparando melhor, os clubes estão contratando, as empresas estão investindo. O Telê estaria em um grande time fazendo um bom trabalho, como fazem Luxemburgo e Muricy", explica Zetti, ex-goleiro do São Paulo que treinou equipes como Atlético-MG e Paraná.

"O Telê sabia muito bem montar um time, escolher as peças. Ele sempre soube como formar um bom elenco", lembra o ex-arqueiro, que conquistou o bicampeonato da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes com o antigo técnico entre 1992 e 1993.

Muricy, por sua vez, recorda da longa carreira de Telê, que trabalhou comandando equipes por quase 30 anos. Para o técnico do Santos, o mineiro de Itabirito conseguiria se adaptar às condições de hoje.

"O Telê passou por várias fases no futebol. Ele ia se adaptar com certeza ao (futebol) de hoje, também por ser um cara que se preocupava muito com a parte técnica do atleta, por ter essa mentalidade aberta de melhorar o jogador. Ele ia continuar fazendo isso igual. Ia continuar fazendo o futebol arte que ele gostava de fazer, de técnica que ele gostava de fazer", comenta.

Toninho Cerezo, sem comandar um time desde que deixou o Sport em 2010, tem opinião parecida com a de Muricy, crendo que Telê se sairia bem no futebol com uma boa adaptação. "Ele iria continuar fazendo o bom trabalho dele. Não ia mudar muito não. Era muito inteligente, iria se adaptar aos novos tempos. No que diz respeito à disciplina, ele continuaria o mesmo", diz.

"Hoje a rapaziada jovem precisa mais de diálogo, de atenção. Mas ele tinha formação de grupo, sabia unir um grupo. Isso com jogadores é importante. Quem ganhava com isso era o atleta", define Cerezo, que foi treinado por Telê no Atlético-MG, no São Paulo e na Seleção Brasileira.