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É só intuição, e muitas vezes ela me deixa na mão. Mas algo me diz que os torcedores que forem hoje à Arena Barueri assistirão a um momento histórico no Corinthians x São Paulo. O

grande duelo ocorrerá entre os goleiros - Rogério Ceni, em busca do 100.º gol de carreira longeva e eficiente, contra Júlio César, o jovem que não pretende ser o Andrada de 2011.

A comparação com o argentino que defendeu o Vasco no fim dos anos 1960 é licença poética. Afinal, por mais inusitada que seja a figura de goleiro-artilheiro, Rogério não é Pelé. Além da qualidade, há enorme diferença na quantidade. Andrada entrou para os almanaques por levar o milésimo gol do Rei! Bem, vá lá, há o valor simbólico: para Rogério, chegar aos três dígitos de bolas mandadas nas redes rivais deve provocar emoção tão grande quanto Pelé ter chegado a 1000.

Torço para que Rogério alcance hoje essa proeza. Não por razões clubísticas, isso é papo para torcedor e discussões de boteco. A questão transcende a inimizade entre os times - desavenças que levam a bizarrices como marcar a apresentação de Adriano para o mesmo dia em que Luís Fabiano chegará ao Morumbi.

Como amante do futebol, ficaria feliz de ver Rogério comemorar o centésimo num jogo importante, dos poucos que têm peso nesta modorrenta fase de classificação do Paulista. Com tantas partidas chinfrins, será um pecado se não estabelecer a marca neste final de semana. Se eventualmente o gol sair, só enobrecerá mais o Corinthians.

Rogério é contestado por rivais e não tem a aceitação generalizada de Marcos. Não o julgo pelo temperamento e sim pelo que produz como profissional. Não há registros de corpo mole em quase duas décadas de São Paulo, não é "chinelinho", não há cenas de desrespeito com treinadores nem com seus colegas.

Rogério é fominha (neste caso, uma qualidade) que não perde treinos nem admite descanso. Não inventa desculpas nem força cartões para ficar fora de viagens longas ou de jogos complicados. Falha, como todo goleiro (ultimamente, um pouco mais), mas reage e vai adiante. Tem pontos de vista com os quais nem sempre concordamos, porém não se nega a expô-los. É notável a ligação com o São Paulo, relação rara no futebol de hoje, em que atletas a cada seis meses juram amor eterno e beijam escudo novo.

Se tudo isso não contasse muito, pesa a seu favor o fato de que bate na bola bem demais. Segue a linhagem dos grandes mestres das faltas, de Didi a Tupãzinho (o antigo), de Zenon a Zico, de Neto a Marcos Assunção. Que faça a festa hoje, independentemente do resultado. Esta etapa do estadual é tão frágil que Corinthians e São Paulo, assim como Palmeiras e Santos, brigam só para saber em que posição ficarão, do 1.º ao 4.º.

Original e cópia. Vicente Matheus é personagem único na história do Corinthians. Autodidata, milionário, deu as cartas no Parque São Jorge durante décadas e se transformou num dos presidentes mais expressivos nos quase 101 anos do clube. Esperto, manhoso, habilíssimo negociante, mentia que só. Mas até as mentiras compunham o seu personagem folclórico, simpático e, por mais contraditório que pareça, cordial no trato com a imprensa.

Andres Sanchez talvez queira ser o Matheus dos anos 2000, mas não tem carisma, humor e candura do original. Ao negar, por muito tempo, que traria Adriano, exerceu um direito. Nada a contestar. Só não precisava ser desrespeitoso quando abordava o assunto com repórteres - alguns dos quais ainda acham graça. Pena.

Seleção em campo. E não é que o Brasil joga mais uma vez, na caminhada para a Copa de 2014? O time de Mano Menezes vai apresentar-se em sua casa, o Emirates Stadium, em Londres, contra a Escócia, às 10 da manhã. Sparring de segunda linha, mas ainda assim é melhor do que jogar contra timecos das terras dos petrodólares.

Há dois aspectos que me farão ficar atento ao jogo: 1 - o retorno de veteranos como Maicon, Lúcio, Elano, ao lado dos jovens Neymar e Lucas. 2 - a estreia da rádio Estadão ESPN, parceria que vai dar muito o que falar.