Ironia do destino. E só o que poderia fazer de Fernandão e Edinho rivais em campo, nesta quarta-feira à noite, no Morumbi.

Destino que uniu os dois em 2001. Em 11 de setembro, enquanto o mundo se horrorizava com uma das maiores tragédias da História, em Nova York (EUA), um garoto de apenas 18 anos dava uma cartada final de sobrevivência.

Edinho havia saído do Rio de Janeiro para a França, levado por um grupo de empresários. Depois de semanas, estava largado, em um apartamento na periferia de Paris, sem dinheiro para se locomover e comer. Sem orgulho e com a ajuda de um amigo, decidiu procurar um atacante brasileiro, recém-chegado em Marselha. Era Fernandão. Após seis horas de viagem, abordou-o no treino e explicou a situação.

– Pedi para meu empresário ajudá-lo. Levei-o para minha casa, ele contou tudo e, depois, consegui um teste para ele – lembra Fernandão.

O atacante são-paulino lhe pagou hospedagem em um hotel de Córsega, onde fica o SC Bastia. Lá, Edinho fez teste e não se firmou, mas foi o suficiente para despertar o interesse do Internacional, de Porto Alegre, em 2002.

Dois anos mais tarde, Fernandão desembarcava no Sul. O amigo lhe recebera como um seguidor. Até os dias de hoje se refere ao atacante como “mito” e “Deus”. A parceria dos dois no Inter rendeu os títulos mais importantes da História do clube. E um exemplo de vida no mundo do futebol.

A relação da dupla

Dificuldades e ajuda
Edinho, em Paris (FRA), morava na periferia e tinha pouco dinheiro. Pulava a catraca no metrô para não pagar a passagem, e ia até o supermercado para comer na sessão de frutas. Quando soube que Fernandão estava em Marselha, não pensou duas vezes e pediu ajuda.

Reencontro
Em 2004, quando Edinho já estava no Inter, Fernandão foi contratado. Ambos se tornaram grande amigos. “Vivi quatro anos ao lado dele no Inter e aprendi muito, mesmo eu sendo mais velho. Torço muito por ele”, conta Fernandão.

Exemplo
A história dos dois foi contada em 2006 pelo palestrante Evandro Mota, motivador do Inter na época. A poucos minutos da final contra o Barcelona, no Mundial, Edinho ouviu a palestra do então capitão Fernandão abraçado com ele. “Os outros viram como devemos sempre tentar ajudar o companheiro”, ressalta o atacante são-paulino.

São Paulo x Palmeiras
Ambos defendem clubes rivais da cidade e treinam em CTs divididos apenas por um muro. Porém, os amigos têm pouco contato. “Estou morando aqui e não consigo sair muito. Independentemente de ter pouco contato agora, ele é o tipo de amigo que quando encontro, passo a tarde dando risadas”, diz Fernandão.

Confira um Bate-Bola com Fernandão:

LANCENET!: Você já caiu nas graças da torcida em apenas três jogos. Um gol no clássico contra o Palmeiras, hoje, já o tornaria um ídolo?

Fernandão: Vou procurar sempre fazer gols. Mas, independentemente de fazê-los, para ser ídolo é preciso conquistar algo. As pessoas estão vendo a minha maneira de ser, de me comportar. Não é um gol a mais ou a menos que irá me transformar em ídolo no clube. Os títulos, não tenho dúvida nenhuma, vão me tornar ídolo.

LNET!: O São Paulo ideal de Ricardo Gomes venceu os dois jogos contra o Cruzeiro, pela Libertadores, e o Inter, pelo Brasileiro, por 2 a 0. Se mantiver esse futebol, é impossível vencer a equipe?

F: Nunca gosto de usar o termo impossível. Se jogarmos da maneira como estamos jogando, com esse empenho, com união e vontade de jogar em grupo, as coisas se complicam muito para o nosso adversário.

Confira um Bate-Bola com Edinho

LNET!: Ele é um dos melhores jogadores com quem você já jogou?

Edinho: Com certeza. Não é exagero, mas tenho o Fernandão como um mito, um exemplo de homem e profissional. É difícil encontrar pessoas como ele, atenciosas e determinadas com todos. Aprendi muito com ele não apenas como profissional, mas também como ser humano. O Fernandão é um daqueles jogadores diferenciados e que mudam o ambiente de qualquer time, dentro e fora de campo. Vai ser um prazer reencontrá-lo.

LNET!: Como pará-lo? Tem a dica? Já alertou os zagueiros do Palmeiras?

E: O Fernandão é imprevisível, pois tem qualidade acima do normal. Ele é inteligente e mesmo jogando mais enfiado na área, sabe confundir e envolver os zagueiros adversários. A atenção precisa ser redobrada, até porque ele voltou jogando muito bem.

LNET!: Se ganhar do São Paulo, arranca antes da Copa do Mundo?

E: Acho que todos os jogos tem a mesma importância, pois os três pontos desse jogo ou das últimas rodadas significam a mesma coisa. Mas é claro que vencer um clássico, ainda mais na casa do adversário, empolga e dá ainda mais moral para arrancarmos antes da parada. Sabemos de todas as dificuldades, mas temos condições e vamos entrar em campo para buscar os três pontos.