Futebol arte sempre que possível

Não sou adepto daquele papo-furado sobre a busca constante pelo futebol arte.

Adoro quando times como Santos de Ganso e Neymar aparecem. Tento ver todos os jogos. São momentos especiais. Aproveitá-los bem faz parte da difícil arte de saber viver.

Meu problema é com o discurso utópico e vazio dos dribles e tabelas.

Dificilmente alguém planeja e constrói equipes que jogam assim.

Mestre Telê e os craques de 82 são exceções.

Mestre Telê Santana conseguiu em 82. O melhor Brasil que vi era formado por jogadores espetaculares. Só o meio-campo tinha 3 craques – Falcão, Sócrates e Zico – entre os maiores da história do futebol.

Além disso, como o Magrão (Sócrates) sempre diz, “era uma delícia jogar naquele time, tanto faz se em treino, jogo. Não dava vontade de parar”.

Em suma, o grande treinador, gênios com a bola, atletas cientes de sua responsabilidade com aquela camisa e o momento especial deles juntos se transformaram em futebol arte.

A situação é bem diferente das constantes exigência de colegas e torcedores que sempre sugerem outro atacante e um volante a menos quando o desempenho não agrada.

Corajoso ou covarde

Eis a questão do futebol para mim. Detesto times covardes. Isso não necessariamente tem a ver com postura ofensiva ou defensiva.

O Boca de Bianchi era retranqueiro e corajoso. O Grêmio de Felipão também.

O Brasil de Parreira, que atendeu à tolice da opinião pública e montou o quarteto mágico, foi covarde. O de 94, na final contra a Itália, com a bola rolando, não nas cobranças de pênaltis, também.

Mudanças táticas no Santos serão sinal de covardia

Cogitam a possibilidade de Dorival Jr utilizar outro volante. Duvido que faça isso. O comandante é inteligente, competente e corajoso na hora de armar seus times.

Quem poderia tirar? Sem o centroavante, sofreu para vencer o rebaixado Rio Claro* no Pacaembu. Só fez os gols com André em campo. No segundo, o da vitória, quase no fim, Geovani estava na meia e Ganso de volante.

Robinho teria que sair. Não acho que o atleta da seleção brasileira aceitaria o banco. E mais.

A mudança não compensaria.

Você acha que o Santos sabe dar a posse de bola ao rival para jogar fechado no intuito de não sofrer gols e resolver a partida em poucos lances de habilidade?

Além de covardia, a alteração de postura seria burrice.

Não acontecerá.

Mudanças táticas no São Paulo serão sinal de covardia

As duas últimas partidas do São Paulo arrancaram sorrisos de boa parte da nação sãopaulina.

Antes, toques de lado, nenhuma mobilidade, lentidão e medo tinham a cara da equipe derrotada em todos os clássicos na temporada.

Agora o time ameaça engrenar. Marlos necessita de mais partidas para se firmar. Não é hora de mudanças táticas. Valeria escalar Cicinho no lugar de Jean, pois o volante improvisado tem errado bastante na marcação. Mas, pelo jeito, o lateral-direito não está em forma ainda.

Recuar diante da possibilidade de encontrar o futebol capaz de colocar o São Paulo de fato na luta pela Libertadores seria enorme covardia.

Semifinal de riscos, o único caminho no “SanSão”.

É hora de encararem o mata mata correndo riscos.

Nem que o preço seja sofrer a goleada que colocaria em xeque a filosofia santista de jogar totalmente no ataque, ou a nova forma bonita, ousada e eficaz do São Paulo atuar.

Não estou fazendo apelo por futebol arte e espetáculo.

O raciocínio é pragmático.

O São Paulo recuado nunca foi bem em 2010. E o Santos sequer tentou jogar assim.

*Corrigido