Pressionado! Nenhuma outra palavra define melhor o status do São Paulo para iniciar o Brasileirão 2024. E certamente a figura do técnico Thiago Carpini está no epicentro desta pressão. Foi exaltado na conquista da Supercopa do Brasil contra o Palmeiras e na quebra do jejum diante do Corinthians nos jogos em Itaquera, mas o desempenho oscilante do time tem pesado mais.

Jogar toda a responsabilidade nas costas de Carpini é injusto. É verdade que algumas soluções nas escalações e em mexidas durante os jogos não foram felizes. A estratégia para determinadas situações também poderia ser diferente. Mas é impossível querer um rendimento crescente sem tantas peças importantes. Na virada do ano, o Tricolor já havia perdido Beraldo e Caio Paulista, titulares fundamentais em 2023. Rodrigo Nestor, outra peça muito relevante, fez cirurgia no ano passado e só voltou agora.

Para completar, em diferentes momentos e com tempos de recuperação distintos, mais jogadores importantes perderam sequência. Rafinha parou por mais de um mês e já está lesionado de novo. Só fez cinco jogos no ano. Há indefinição sobre o companheiro de Arboleda na zaga, e isso certamente fez o equatoriano ter uma média de atuações inferior em 2024. Wellington Rato e Lucas se machucaram duas vezes e seguem fora de combate. Calleri também teve problemas recentes. Isso sem contar as ausências de Luiz Gustavo, Nikão e Moreira. Jogadores que nem são titulares do time, mas que seriam ótimas peças de reposição, alterando inclusive a forma da equipe de se organizar em determinados jogos.

O contexto talvez tenha sido, aliás, o causador daquilo que muitos tricolores têm chamado de ‘’involução do time’’. O elenco são-paulino melhorou. Isso é indiscutível! Para uma equipe que tinha forma de atuar bem estabelecida, as trocas de características dos jogadores que entram e titulares que saem muitas vezes não se encaixam. Na lateral direita, por exemplo, Rafinha faz a saída de três com os zagueiros, mas Igor Vinícius e Moreira são jogadores para atacar abertos, gerando amplitude ao time. Isso mexeu diretamente na função de Wellington Rato em vários jogos.

Se o camisa 27 estava habituado a atuar mais preso ao flanco direito, precisou se readaptar a fazer flutuações para o meio. Ainda dentro disso, o encaixe com Lucas ou Luciano, que jogaram mais vezes na meia-central, necessitava de ajustes para que não ocupassem o mesmo espaço.

Encontrar o substituto ideal de Calleri é outro problema. André Silva chegou recentemente, mas tem características distintas. Juan tentou se adaptar, até mesmo Luciano por alguns minutos de variados jogos, mas ninguém chegou perto daquilo que o argentino entrega, e o time estava adaptado. Calleri faz a equipe se instalar no campo de ataque quando há dificuldade de avançar com trocas de passes curtos. Recebe bolas diretas, ganha duelos com zagueiros. ‘’Apara’’ para os talentosos meias e atacantes definirem rapidamente a jogada.

A ausência de Nestor pela esquerda fez Carpini testar vários nomes na função: Nikão, Galoppo, Lucas, Michel Araújo e Ferreira. O último teve o melhor desempenho ofensivo, é um dos artilheiros do time na temporada ao lado de Calleri e Luciano, mas peca demais no auxílio defensivo a Welington. O lado esquerdo de defesa do São Paulo foi um problema sério sem a ajuda de Nestor.

Além da fragilidade defensiva de Ferreira, Welington também cometeu erros de leitura de jogada, abordagem de marcação e posicionamento. Para completar, a proteção de área do São Paulo foi ruim até aqui, Muitos espaços entre os integrantes da última linha para cortar cruzamentos com bola rolando. Coberturas tardias. Uma combinação explosiva, que precisa de solução urgente.

Nas bolas paradas o time vive uma dicotomia. Tem falhado demais para defender o centro da área em escanteios e faltas laterais adversárias. Pouca imposição para ganhar os duelos. Na área rival, no entanto, a capacidade de vitórias tem sido alta. Fez vários gols assim. Variando as batidas na primeira e na segunda trave. Wellington Rato é muito preciso nas batidas.

Ainda nos aspectos positivos mostrados até aqui, vale exaltar a coordenação e a intensidade quando a proposta é marcar no campo de ataque. Tem sido a melhor alternativa para sofrer menos na defesa. Há volume de chegada à área em jogadas terminadas pelos flancos. Muita gente se coloca na região de finalização. Welington é uma força atacando bem aberto pela esquerda. A equipe sofre poucos contragolpes perigosos dos adversários também.

As transições defensivas apresentam regularidade em bom nível, só sendo diferente em momentos dos jogos em que a escalação inicial está muito desfigurada por substituições. É impossível deixar de frisar a importância de Lucas para o time. Quando as trocas de passe encaixam e há superioridade de peças pelo meio, é ele o responsável por romper as linhas rivais. Seja recebendo nas costas do meio e acelerando com a bola dominada na direção da área ou recuando para provocar desmarques dos companheiros. Aparece sempre nos momentos mais difíceis.

A torcida tricolor torce para que o outro gênio do elenco, o colombiano James Rodríguez, faça por onde receber mais oportunidades no dia a dia. O atleta chegou a deixar o clube, mas, por ter contrato até 2025 e não conseguir outro time, voltou prometendo uma atitude diferente. Unir Lucas e James com organização coletiva mudaria o São Paulo de patamar.