Neymar é um candidato a craque. Ótimo em campo, vira inspiração para a garotada, que copia de tudo, desde o cabelo moicano às munhequeiras brancas e pretas. Fora do gramado, porém, arranja muita encrenca. Sem falar sobre a briga com Dorival Júnior, o projeto de craque engravidou uma menina de 17 anos. Isso sem contar os desentendimentos com patrocinadores.

Kaká já é craque. Não vive bom momento desde a Copa do Mundo de 2010, mas sua postura em campo é exemplar. Treina à exaustão, faz tudo que o clube pede e tem postura. Suas entrevistas têm conteúdo, não são insossas. Fora do campo, também é um modelo. Mantém-se longe de polêmicas e costuma aparecer pouco. Não dá espaço para especulações.

Fiz essa breve descrição para tentar responder à pergunta que me fizeram dias atrás: o que é ser ídolo no Brasil?

Kaká já ganhou Copa do Mundo, foi eleito o melhor jogador do planeta e tem tudo o que um atleta sempre sonhou, mas nunca foi unanimidade como ídolo nacional. Enquanto isso, Neymar tem somente 19 anos, algumas encrencas e comportamento duvidoso em algumas questões. Mesmo assim, recebe tratamento de divindade.

Ídolo, ao menos no esporte brasileiro, é aquele que mais foge do politicamente correto. Faz travessuras, apronta nas baladas, enche a cara e, horas depois, decide em campo. Esse tipo de jogador é valorizado. Cito Neymar, mas talvez nem fosse o caso. Podia falar de Renato Gaúcho, Garrincha, Serginho Chulapa, Romário e Ronaldo.

Na contramão, os que tentam se preservar da imprensa e dos holofotes trazidos pela mídia são criticados. Ir à Igreja aos finais de semana? Errado. Contribuir com instituições carentes? Outro erro. Não gostar de pagode? Pior ainda. Ser capaz de responder a uma pergunta do repórter com sinceridade? Um pecado.

Não acho que Neymar não pode ser ídolo do futebol brasileiro. Quero só aumentar a discussão sobre até que ponto o “bad-boy” merece status de ídolo no Brasil. Sua função não é dar exemplo, mas de tanto aparecer ele se torna um modelo a ser seguido.

Não digo também que Kaká deve ser sempre elogiado e copiado por todos os brasileiros. Mas ao menos é um exemplo do que um atleta precisa ter. Quer outros? Só olhar para a Seleção Brasileira de vôlei. Um time que rala muito no treinamento e recebe a recompensa com os títulos.

Se tudo que a sociedade recrimina (abuso das baladas, discussão com pessoas mais velhas e gravidez precoce) vale no futebol, alguma coisa está errada. E talvez nem seja Neymar. Ele apenas é fruto do meio em que vive.