"Não é regular a situação dos documentos da nova contratação do Corinthians, o atacante Emerson “Sheik”.

Na verdade, nem “Emerson” ele se chama.

A história é longa, reca de documentos falsos, prisão, associação com gente “complicada”.


INÍCIO NO SÃO PAULO

“Sheik”, que na verdade se chama MARCIO PASSOS DE ALBUQUERQUE, iniciou sua carreira no São Paulo, jogou entre 1998 e 1999, onde chegou a atuar pela equipe titular, conduzido pelo treinador Pita, depois utilizado por Mario Sergio.

Sua melhor oportunidade ocorreu com a chegada de Carpegiani, que, em sua primeira passagem pelo tricolor, escalou o agora atacante na ala direita.

Porém, no final de 1999, conheceu um agente , que tratou de negociá-lo ao futebol asiático.

FALSIDADE IDEOLÓGICA

O agente convenceu o atleta a forjar um documento para facilitar sua vida no exterior.

Mudou nome, idade (reduziu três anos) e até omitiu que tinha pai.

Passou a ser conhecido como MARCIO EMERSON PASSOS.

Enquanto seu documento verdadeiro, como MARCIO PASSOS ALBUQUERQUE, tinha a data de nascimento de 06 de dezembro de 1978, no falso constava a data de 06 de setembro de 1981.

Até o local de nascimento foi modificado.

Da Maternidade São José, no Rio de Janeiro, para o bairro de Jardim Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

O agente conseguiu, então, que todos os documentos de “Emerson” fossem alterados.

Novo RG foi emitido em 13 de fevereiro de 1996, CPF em 5 de novembro de 1997, além de carteira de motorista fajuta e passaporte, ambos retirados em São Paulo.


PRISÃO

Emerson já era ídolo no Catar, quando sua situação documental foi descoberta, em investigação da Polícia Federal.

Foi preso dia 20 de janeiro de 2006, no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, quando tentava embarcar para o exterior, pela Air-France.

Acusado de falsidade ideológica e posse de documentos falsos.

Estava acompanhado de mulher e filha.

Ainda desconhecido no Brasil, o caso pouco foi tratado por aqui, mas, repercutiu como uma bomba no Oriente Médio.

No período em que passou na cadeia, o jogador conheceu seu atual empresário.

Ambos estavam presos no mesmo local.

E são os mesmos que fecharam negócio, este mês, com o Corinthians, em que Emerson receberá R$ 300 mil mensais.


CONDENAÇÃO

Pela fraude, Emerson foi condenado, em 2007, a três anos e nove meses de reclusão, enquadrado no crime de falsidade ideológica.

Posteriormente, em 2008, conseguiu reduzir a pena para 1 ano e meio de prestação de serviços comunitários, além de R$ 70 mil de multa.

SUSPENSÃO DO FUTEBOL

Em setembro de 2008, Emerson atuou pela seleção do Catar, contra o Iraque, pelas eliminatórias para a Copa de 2010.

O problema é que já havia atuado pela Seleção Brasileira de juniores, quando utilizava seu documento original.

A irregularidade foi descoberta pela Federação Iraquiana, que pediu a eliminação do Catar e a suspensão do jogador.

Por ter recolhido a taxa de recurso da FIFA com onze dias de atraso, o processo foi arquivado, porém Emerson foi suspenso pela entidade.

O “Sheik” do Catar, desta feita o verdadeiro, ficou revoltado com o brasileiro, que teve que sair às pressa do país.

Segundo o registro da CBF, o atleta MARCIO PASSOS DE ALBUQUERQUE, após passagem pelo São Paulo, ficou anos sem jogar futebol.

Diferente de MARCIO EMERSON PASSOS, de extensa carreira no exterior.

Contratado pelo Flamengo em 2009, mesmo estando suspenso pela FIFA, conseguiu se inscrever na FERJ, utilizando-se de um subterfúgio interessante.

Por lei, só poderia ter sua transferência liberada após o envio de atestado eletrônico do Catar, em nome, é claro, de MARCIO EMERSON PASSOS, já que, oficialmente, MARCIO PASSOS DE ALBUQUERQUE nunca saiu do Brasil.

O documento, por motivos óbvios, nunca foi enviado.

Da mesma maneira que no episódio do “Caso Junior”, o departamento de Registros da CBF foi contatado para resolver o problema.

Trataram então de reativar, irregularmente, a ficha anterior do jogador, com o nome verdadeiro, porém com registro único do São Paulo Futebol Clube.

Meses depois o Flamengo consegue negociá-lo, com o documento atual – o verdadeiro – para os Emirados Árabes.

“Oficialmente” sua primeira transferência internacional.