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Zizinho, 100 anos: Família relembra presente do São Paulo

Zizinho na estreia pelo São Paulo contra o Palmeiras, em 1957 Acervo GazetaPress

Há pelo menos 20 anos, um Gol vermelho, modelo G3, que inclusive já não é mais fabricado, circula quase diariamente pelas ruas de Niterói no complicado trânsito da cidade fluminense. O que ninguém sabe é que aquele humilde carro foi o último automóvel de Zizinho.



Sob os cuidados de Katia Regina Marins, 70, a filha caçula do Mestre Ziza, o carro foi um presente do São Paulo quando o ex-jogador completou 80 anos, em 14 de setembro de 2001. Infelizmente, ele curtiu pouco. Afinal, morreu em 8 de fevereiro de 2002.


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“Fizeram uma festa e deram o presente lá em São Paulo. Ele adorava. O São Paulo tinha muito reconhecimento e muito amor por ele, e ele pelo São Paulo. Sempre que tinha algum evento no Morumbi os diretores mandavam um táxi pegar papai aqui e levar ao aeroporto. Depois, alguém o recebia em São Paulo. Tratavam ele com muito carinho”, disse Katia Regina à reportagem.

A relação de gratidão veio de uma passagem curta, de pouco mais de um ano, 67 jogos e 27 gols, mas que foi coroada por uma reviravolta e o título do Campeonato Paulista de 1957.

Zizinho chegou durante a disputa do segundo turno, quando a briga pela taça parecia dividida entre o Santos, do jovem Pelé, e o Corinthians, de Luizinho. Com ele, o time tricolor venceu dez jogos e empatou outros dois. Foi campeão na última rodada ao bater os corintianos por 3 a 1, no Pacaembu. O Mestre fez a diferença.

“Ele jogou na posição 10 em uma equipe que tinha grandes nomes, como Mauro, Dino Sani, Maurinho, Amaury, Gino Orlando e Canhoteiro. Todos ótimos jogadores, mas faltava uma cabeça para pensar o jogo e dar a bola para eles jogarem”, disse o jornalista José Maria de Aquino, 87, na época um jovem torcedor de futebol e, portanto, com boas memórias do Mestre Ziza em campo.

Daquele título até o último dia da vida de Zizinho, o São Paulo tratou o ex-jogador com tapete vermelho, mesma cor do Gol hoje dirigido por Katia Regina e conservado com muito carinho.

“O carro ficou comigo desde que papai faleceu. Não posso me desfazer dele. Meus genros até falam: ‘Você tinha trocar por um carro melhor, com ar-condicionado, com isso, aquilo’. Não! Esse carro vai ficar comigo até acabar... eu ou ele”, disse Katia Regina, aos risos.

Vale destacar que essa é uma das poucas homenagens que Zizinho recebeu em vida. Teve outras, como a inclusão do nome dele na “Calçada da Fama” do Flamengo, logo na entrada da sede na Gávea, em 20 de maio de 2000, em projeto inaugurado pelo presidente da época, Edmundo dos Santos Silva, e mantido pelas administrações seguintes.

Zizinho defendeu o clube rubro-negro por quase 11 anos. Ainda hoje é o nono maior artilheiro (145 gols) e está eternizado na história como campeão do primeiro tricampeonato carioca da equipe, em 1942, 1943 e 1944.

Outras duas homenagem vieram também naquele ano de 2000.

José Trajano, diretor de jornalismo da ESPN Brasil de 1995 até 2002, convidou Zizinho para participar do programa “Bola da Vez” e eternizar as mãos e os pés no “Hall da Fama” da emissora. Ainda hoje, ao andar pelos corredores da casa, no bairro do Sumaré, em São Paulo, é possível ver as marcas deixadas pelo camisa 8 ao lado das placas de outros ídolos do esporte nacional.

A administração do Maracanã também o convidou para colocar os pés na “Calçada da Fama” do estádio. A placa com as pegadas de Zizinho foi uma das 73 peças perdidas durante a última reforma do estádio, em 2013, mas acabou reencontrada em 2019.

Outras homenagens vieram depois da morte do Mestre, como a renomeação do estádio Caio Martins para estádio Thomaz Soares da Silva/Mestre Ziza, em Niterói, em 19 de fevereiro de 2002, projeto de lei dos deputados Paulo Albernaz e Wolney Trindade.


Crédito da foto: Acervo Histórico Arquivo Nacional

Em 9 de novembro de 2006, o nome de uma rua do bairro carioca de Campo Grande, na zona norte da cidade, foi alterado para Tomás Soares da Silva (uma das formas como alguns veículos de imprensa grafavam o nome dele). Há alguns anos, a torcida do Bangu, clube onde jogou de 1950 até 1957 e o quinto maior artilheiro (127 gols), carrega uma bandeira com o rosto do Mestre Ziza.

Por fim, em 2019, os organizadores da Copa América no Brasil realizaram um concurso digital para definir o nome da mascote da competição, uma simpática capivara. Com 65% de votos, foi escolhido o nome de Zizito, em homenagem ao Mestre Ziza. Ele é até hoje o maior artilheiro do torneio sul-americano, ao lado do argentino Norberto Méndez, com 17 gols.

Em homenagem ao centenário do Mestre, o site da ESPN passou a publicar desde domingo (12) textos sobre Zizinho. No próximo dia 14, a ESPN Brasil e o Star+ exibem o especial “100 anos de Zizinho, o Mestre do Rei Pelé”, às 22h30 (de Brasília).


O Mestre Ziza em momento de descontração, em Niterói Acervo Histórico do Arquivo Nacional

Código para evitar 1950
Zizinho teve duas filhas com a esposa Jane: Nádia, em 8 de outubro de 1948, e Katia Regina, em 14 de outubro de 1950. Depois foram quatro netos, com quem conviveu e criou uma forte relação de amizade e amor.

Até hoje, é a família quem mais luta pela preservação da memória do craque.

“Era um paizão. Muito apegado as filhas. Gostava de estar junto. Era carinhoso, amoroso. Gostava de ver filmes de velho oeste, futebol, basquete. Gostava de revistinhas, como ‘O Cavaleiro Negro’, e gostava muito de escrever”, disse Katia Regina.

Simone Marins, 47, uma das netas de Zizinho, conheceu a trajetória do avô pelas histórias que ouviu dele. Hoje, ela ajuda a transmitir o que aprendeu, seja atendendo jornalistas ou apenas repassando o aprendizado para as filhas.


Zizinho com a neta Simone no ano de 2000, em Niterói Acervo da família de Zizinho

Apesar de não achar justo receber os créditos, ela também ajudou o avô quando ele estava trabalhando na publicação do último livro dele “Zizinho: Verdades e Mentiras no Futebol”, lançado em 2001.

“Ele escrevia os originais e pedia para eu digitar. Meu avô era muito organizado, indicava tudo: fonte, tamanho da fonte etc. Se eu fazia de um jeito diferente, ele pedia para refazer seguindo as orientações dele. Às vezes, o telefone tocava em casa e ele falava: ‘Oiiii!’. Eu já sabia o que era. Aí ia até a casa dele, pegava os originais e as explicações dele”, disse Simone.

Entre as verdades e as mentiras no futebol que Zizinho buscou esclarecer no livro há espaço dedicado para a decisão da Copa do Mundo de 1950, entre Brasil e Uruguai, no Maracanã.

A seleção brasileira era favorita por atuar em casa, ter craques como o próprio Zizinho, Ademir de Menezes, Danilo Alvim e Jair Rosa Pinto e pela campanha no quadrangular final. Jogava pelo empate, mas foi derrotada de virada por 2 a 1, diante de 200 mil pessoas.

No livro, o Mestre Ziza afirma que a seleção uruguaia foi melhor. Não pelo talento individual, mas pelo comportamento tático. Afirmação que já havia dito em 2000, quando participou do “Bola da Vez” e deu sua última entrevista para a ESPN Brasil.

Quem sabe muito sobre essa história é Katia Regina. Afinal ela nasceu poucos meses depois da perda do título e viu durante a infância e adolescência o tema voltar a tona sempre.

“A imprensa, o mundo, falou em tragédia, né? Mas não foi uma tragédia. Tragédia não é isso. Na época ele pode ter sofrido com isso. Os jogadores da Copa de 1950 foram responsabilizados por não ganhar o jogo pelos políticos, pelos dirigentes”, disse.

“Depois, com o tempo, acho que esse sofrimento diminuiu para papai. Afinal, ele foi eleito o maior jogador da Copa. Então aquela tragédia não foi uma tragédia assim. Era a imprensa quem cobrava muito, especialmente quando jogavam Brasil e Uruguai”, disse.

Nos dias que antecediam o clássico sul-americano, Katia Regina revelou que o pai desenvolveu um método para não ser aborrecido por jornalistas ávidos por um depoimento revanchista. Ele desligava o telefone e avisava as filhas para o procurarem…

“Usando um código”, disse, ao risos. “Ele definia um código conosco, que só eu e minha irmã Nádia sabíamos, caso a gente precisasse falar com ele para alguma emergência. Aí a gente usava o código e falava com ele. Caso contrário era impossível achá-lo”.


Zizinho em um almoço de domingo com a filha Kátia e as netas Simone e Suzana, em Niterói Acervo da família de Zizinho

Sessão espírita em 1970
Ainda sobre as memórias de família, Katia Regina lembra que Zizinho gostava de samba, carnaval, se reunir com os amigos, um bom drink, entre outros prazeres. Características que retratam muito bem o perfil dos jogadores daquela época.

Mas o Mestre Ziza tinha um lado religioso que era pouco conhecido pela mídia.

“Ele era espírita, nasceu em família espírita. A minha bisavó era 'rezadeira'. Ele cresceu nesse ambiente. Até fizeram um centro espírita dentro de casa. Não era aberto para atender as pessoas. Era para a família e um ou outro amigo”, disse.

Zizinho acabou desenvolvendo o lado espiritual e levando ele para onde fosse, inclusive para o México, onde a acompanhou a disputa da Copa do Mundo de 1970 como colunista do “Jornal dos Sports”.

“De vez em quando alguém ia lá no quarto dele no hotel para ele fazer uma consulta", disse Katia Regina.

[Algum jogador da seleção de 1970?] "A gente escutava essas histórias, os amigos iam… [Ele era muito amigo do Gérson. Ele foi?] Ah, não sei, não sei [risos]. O pai do Gérson, o Clóvis, era muito amigo de papai. Sempre que papai precisava de algo ele contava com o Clóvis. E o Gérson tinha esse carinho pelos pretos velhos, como se falava. Outros jogadores daquela seleção também”, completou.


Crédito da foto: Acervo Histórico Arquivo Nacional

A memória do ídolo pede respeito
O próximo 14 de setembro será um momento especial para a família de Zizinho. Eles vão relembrar o centésimo aniversário do Mestre, em um momento que a memória do futebol brasileiro não tem dado o devido valor aos craques do passado.

“Todo mundo fala que o Brasil tem pouca memória, e tem mesmo. Mas a gente percebe que muitos jovens nem sabem quem foi o Zizinho. Somente aquelas pessoas que viveram aquela época sabem e dão o devido reconhecimento”, disse Katia Regina.

É difícil imaginar como o próprio camisa 8 se sentiria ao chegar aos cem anos ou o que acharia do atual momento do país e do futebol brasileiro. Ele morreu aos 80 anos, em casa, conversando com Nádia dias após operar um aneurisma no coração.

Mesmo assim, até hoje ele está presente para os familiares e assim será no dia do centenário do Mestre.



“Eu sonho muito com ele. Quando ele morreu, minha mãe passou mal e eu fiquei com ela no hospital. No dia da missa de sétimo dia, eu estava no hospital com ela e sonhei pela primeira vez com papai. Ele chegou, abriu a porta do quarto do hospital, olhou para minha mãe, veio até mim, fez aquele carinho que só ele fazia, de puxar o nariz e dar um soquinho na cabeça, e disse: ‘Está tudo bem, minha filha?’. Eu falei: ‘Está, papai”. Aí ele falou: ‘Que bom. Eu não posso ficar aqui’, e saiu. Eu acordei e fiquei olhando a porta, revivendo aquilo. Foi um sonho presente. Desde então eu sempre sonho com ele”, disse Katia Regina, emocionada.


Zizinho com a esposa Jane e as filhas Nádia e Kátia Regina, em Niterói Acervo da família de Zizinho

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Comentários (5)
bronze
13/09/2021 15:55:47 TS

Para se ter uma ideia do tamanho do Zizinho, ele é ídolo do Pelé no futebol.

Tenho um tio que, devido à idade, não consegue se lembrar mais de quase nada. Mas se perguntar sobre 1957, ele fala a escalação certinha!

Até fui pesquisar na internet e é exatamente o que ele fala: Poy; De Sordi, Mauro, Sarará, Vítor, Riberto, Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.

Tem coisas que só o futebol conseguem proporcionar!

bronze
13/09/2021 15:33:01 rodrigotm

Homenagem justa para um eterno ídolo.

13/09/2021 14:59:27 Fábio Jacob Kelevra Nogueira

Fez a sua historia Tricolor

13/09/2021 13:23:23 Celso Fonseca

Que o SP nunca esqueça dele e outros idolos.

13/09/2021 09:58:37 Antonio Carlos Faria Pirillo

Justa homenagem!!!!

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