Li essa matéria agora no site da globo e quem a assina é Marcelo Prado, 45 anos, que foi setorista do São Paulo por 12 anos e hoje é editor de texto da Globo. Tal matéria simplesmente destrincha os problemas do SPFC, dá nomes aos bois e fala diretamente de como funciona a política da diretoria e cargos no SPFC e é isso, que ano após ano está afundando o São Paulo.

"Opinião: vaidade e soberba de dirigentes afundam o São Paulo rumo a um futuro preocupante"

"Rogério Ceni deixou o São Paulo. Este é só mais um capítulo na história de um clube que caminha a passos largos rumo ao buraco. A verdade é uma só e dói para o apaixonado torcedor admitir: aquele São Paulo que era modelo de administração e que num intervalo de três anos ganhou Paulista, Libertadores, Mundial de Clubes e o tricampeonato brasileiro acabou. Virou apenas lembrança.
Hoje, as únicas coisas que podemos ressaltar no São Paulo são o Morumbi (não tem a modernidade das arenas, mas atende muito bem quem o frequenta) e sua apaixonada torcida de 15, 16 milhões que, ano após ano, carrega nos ombros a obrigação de salvar uma equipe que flertou com o rebaixamento em diversas ocasiões.
Para começar a falar no que se transformou o São Paulo atualmente é preciso usar duas palavras: vaidade e soberba. Essas duas características acompanharam os mandatários do clube desde quando o finado Juvenal Juvêncio mudou o estatuto e se perpetuou no poder por mais um mandato.
Quem é são-paulino e acompanha seu time de perto certamente se lembra da cena grotesca feita por Carlos Miguel Aidar que, ao falar sobre a contratação de Alan Kardec, que estava no Palmeiras, levou um cacho de bananas para a sala de imprensa do Morumbi e disse que o rival estava se apequenando.
Ele só se esqueceu que do outro lado estava Paulo Nobre que, apesar de ter zero experiência no futebol, era um ótimo administrador e tinha dinheiro de sobra para arrumar as coisas. O que se viu dali para a frente dá até vergonha para os são-paulinos. O Palmeiras saiu do buraco e hoje é referência em absolutamente todos os setores. O São Paulo, ao contrário, se apequena cada vez mais.
Veio Leco que, no início de sua administração, estava fazendo o certo, pagando contas, montando times modestos, pensando lá na frente. Até porque, não tem milagre. Para voltar a crescer é preciso que alguém faça o trabalho sujo. Peguemos aqui o exemplo do Flamengo, da administração Eduardo Bandeira de Mello.
Mas Leco deixou-se picar pelo bichinho da soberba e da vaidade e passou a gastar desenfreadamente. Contratou jogadores a rodo, por valores altíssimos, sem ter como pagar. O ápice foi a chegada de Daniel Alves, com salários de R$ 1,5 milhão por mês sem ter um parceiro. Tudo pelo sonho de querer ser o dirigente que tirou o time da fila. Não tirou e piorou ainda mais as combalidas contas tricolores.
Leco saiu e chegou Júlio Casares, que começou errado logo de cara. Casares virou presidente no final de 2020, começo de 2021, quando o São Paulo disputava o título brasileiro com Fernando Diniz. Naquela altura, e isso é um fato, existia uma sinergia entre jogadores, comissão técnica e a dupla Raí e Alexandre Pássaro, que comandava o futebol. Sabe aquela história de “não mexe onde está dando certo?”. Pois é, a vaidade de Casares falou mais alto e ele resolveu mexer. Junta-se a isso o lamentável episódio do xingamento de Fernando Diniz a Tchê Tchê e lá se foi a chance do sétimo título brasileiro.
Casares não conseguiu cumprir simples promessas de campanha. A Total Acesso, plataforma responsável pela venda de ingressos, dá problemas há muito, muito tempo. O dirigente disse que iria exigir mudanças, sob ameaça até de rescisão contratual. Não sou eu quem está falando. Tem vídeo disso. Nada foi feito. Os problemas seguiram. Jogo após jogo, é só colocar o nome da empresa na lupa das redes sociais para ver o tanto de reclamação. O ápice foi a bagunça na venda de ingressos para as quartas de final do Campeonato Paulista, contra o Água Santa, no Allianz Parque.
Prestações de contas trimestrais, outra promessa de campanha, jamais foram divulgadas. Melhorias no programa de sócio-torcedor? Nada. Os são-paulinos sequer recebem o kit de boas-vindas. Na semana dos shows do Coldplay no Morumbi não havia nem atendimento telefônico para o sócio, cada vez mais largado.
O balanço do último ano teve a considerável ajuda da venda de Antony do Ajax ao Manchester United para alcançar superávit. Cotia, que era referência e que com tudo que já rendeu de venda de jogadores, salvou o clube da falência, virou um arremedo. Pela primeira vez, o clube não conquistou títulos em nenhuma categoria. Na atual temporada, no Brasileiro sub-20, por exemplo, está entre os últimos. O futebol feminino, antes uma das referências, se enfraquece ano após ano.
É bem verdade que teve o título paulista de 2021, que quebrou um incômodo jejum. Mas cá entre nós, um título em 14, 15 anos é muito pouco.
Precisamos agora falar de Carlos Belmonte, um dirigente que caiu de paraquedas no comando do futebol de uma das maiores potências do país. Sabe por que ele está lá? Porque tem um grupo forte politicamente, que apoia Casares. E isso se repetiu em outras áreas, conselheiros foram alocados em setores importantes. E, claro, o resultado é praticamente nulo.
Voltando a falar de Belmonte, o que o credencia a ocupar tal posto? Eu já respondo: Nada! Para justificar, cito abaixo os 31 jogadores contratados desde o início dessa gestão.
Em 2021: Orejuela, Benítez, William, Bruno Rodrigues, Miranda, Rigoni, Éder, Calleri e Gabriel Neves. Destes nove, só três seguem no clube. Orejuela, por exemplo, custou R$ 13 milhões.
Em 2022: Jandrei, Rafinha, Alisson, Nikão, Patrick, André Anderson, Andrés Colorado, Marcos Guilherme, Nahuel Bastos, Nahuel Ferraresi, Galoppo e Felipe Alves. Aqui, dos 12, seis já foram embora.
Na atual temporada, veio mais uma baciada: Pedrinho, Marcos Paulo, Rafael, Wellington Rato, Jhegson Mendez, David, Caio Paulista, Erison, Michel Araújo e Raí Ramos. Destes dez, é possível cravar que apenas dois são titulares da equipe: Rafael e Rato. É muito erro, não é possível que um clube que já não tem dinheiro para contratar falhe tanto na hora de fazer novas aquisições.
Basta ver que agora, num momento de dificuldade que o São Paulo vive, qual jogador poderia ser apontado como protagonista, aquele capaz de fazer a diferença e comandar a reação? Calleri? Arboleda? E só. Hoje, o São Paulo é formado por um elenco que tem na sua maioria jogadores nota 6 e que, de vez em quando, têm lampejos. Apenas isso.
E, como Casares, Belmonte é evasivo quando dá entrevistas. Sempre manipula a narrativa, não se aprofunda em nada, dá a entender que está tudo bem e que a o trabalho é de qualidade.
Desde que essa gestão assumiu, são comuns as notícias de atrasos nos salários ou direitos de imagem. É bem verdade que no início foi herdada uma dívida da gestão Leco com os atletas por causa da pandemia. Mas o tempo passou e os débitos se renovaram. E Belmonte, em uma recente entrevista à rádio Transamerica, quando questionado sobre o assunto, disse: “Mas os jogadores nem nos cobram”. Dizer o que disso?
O problema do São Paulo se estende à sua estrutura, que ficou obsoleta. O Reffis, agora chamado de Reffis Plus, está longe de fazer frente aos principais rivais, como Flamengo e Palmeiras. Até o ano passado, a piscina não tinha água, era usada para guardar cadeiras, conforme Rogério Ceni alertou em uma entrevista coletiva. Profissionais que eram responsáveis pela recuperação dos atletas só trabalhavam um período no clube.
Os dirigentes atuais do São Paulo são tão omissos que coube a Rogério, a maior figura da história do clube, tomar decisões que não seriam dele em vários casos. O último exemplo disso foi Luan. Rogério, a oito meses do fim do contrato do atleta, decidiu que ele não seria mais utilizado se não renovasse contrato. Isso é decisão que o técnico tem que tomar? Como esse caso, exemplos não faltam.
Usar escudo é prática velha no clube. Leco usou Raí e Lugano. Veio Casares e trouxe Rogério como técnico e Muricy para o time de dirigentes. Até Zetti foi alocado no CT de Cotia. Mas uma coisa é fato: enquanto não virar o foco para quem se protege atrás de escudos nada vai mudar. É tanto problema junto que fica até difícil enxergar uma luz no fim do túnel. Até porque Casares certamente vai se reeleger no fim do ano, tem maioria dos conselheiros. É para eles que o dirigente trabalha.
Um exemplo disso: no mesmo dia do sorteio dos grupos da Sul-Americana, Júlio Casares, após a reunião que aprovava o balanço anual do clube, estava na sede social do clube inaugurando uma praça de alimentação que leva seu nome. Por isso é revoltante que o destino de um clube que tem 15, 16 milhões de torcedores seguirá sendo definido por 240, 250 conselheiros, alguns que sequer torcem para o time. A oposição no São Paulo hoje é minúscula, sem força para reverter o quadro. E, na verdade, como disse no início desse texto, quem sofre é seu apaixonado torcedor.
Aproveito aqui para atualizar a lista de treinadores desde que Muricy Ramalho foi embora em 2009: Ricardo Gomes (2x), PC Carpegiani, Adilson Batista, Emerson Leão, Ney Franco, Paulo Autuori, Muricy Ramalho (2013), Juan Carlos Osório, Doriva, Edgardo Bauza, Rogério Ceni (2x), Dorival Júnior, Diego Aguirre, André Jardine, Cuca, Fernando Diniz e Hernan Crespo. Fora Milton Cruz, Sérgio Baresi, Pintado, Vagner Mancini e Marcos Vizolli que comandaram como interinos…
É possível ver nomes dos mais diferentes perfis. Mais ofensivos, mais defensivos, mais jovens, mais experientes. Estilo paizão, mais enérgicos. Apenas um teve sucesso. Ou seja, está claro que o problema não é técnico, correto?
O gigante São Paulo Futebol Clube, antes referência, hoje só pode pensar numa coisa: fazer 45 pontos e evitar o maior fiasco de sua história. Se o rebaixamento vier, vai ser difícil voltar."