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Depois de um ano fora do futebol, Leão voltou claramente mais manso. Desde outubro no comando do Tricolor, os resultados do time bem que poderiam ter tirado o treinador do sério. De fato, em campo ele mostra a mesma personalidade marcante e exigente, mas fora dele parece ter deixado no passado as respostas curtas e grossas. A explicação, segundo o próprio Leão, está na nova maneira de interpretar não apenas o futebol contemporâneo, mas principalmente de como encarar o mundo moderno. No entanto, no melhor estilo Emerson Leão, tudo há um limite: “Eu estou começando a dialogar. Mas tem coisas que os limites são outros. Tem coisas que jamais vou aceitar, mas tem outras que é bom agregar”.
MARCA BRASIL: Leão, é certo dizer que você mudou a sua imagem? Que está diferente, mais ponderado na maneira de encarar a rotina do futebol e até mesmo na maneira de viver?
Leão: Você é um aos 18 anos, que não é o mesmo quando faz 30 anos. Aos 60 você também mudou. Outro dia, no Kajuru (programa de TV), eu falei que ele tem que fazer uma reflexão. Você é o cara de palco, melhor do que qualquer um que eu já vi, mas a exceção sua é forte. E é verdade. A coisa vai indo de acordo com o tempo. O futebol não é o mesmo, os dirigentes não são os mesmos, hoje tem muito empresário, procuradores, os times mudam de cidade, virou mais uma espécie de voleibol. Hoje durmo aqui e amanhã posso acordar no Rio.
MB: E essas mudanças te incomodam? Pelo visto, parece que te fazem bem...
L: É muito gozado isso. Eu tive que me adaptar. Hoje, 90% da vida você faz com os dedos do computador. Tem um lugar no cérebro da inteligência que você deixou de usar. Os moleques de hoje em dia não sabem fazer tabuada. Em compensação eles sabem muitas coisas que você não sabe. Outro dia vi uma entrevista do FHC (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República) na qual ele dizia estar se adequando ao mundo moderno. Acho que eu estou começando a dialogar. Mas tem coisas que os limites são outros. Tem coisas que jamais vou aceitar.
MB: Até pouco tempo, as brigas com a imprensa eram uma marca registrada. Hoje você se aproximou da imprensa e passou a ter uma ótima relação. Era isso o que faltava?
L: Sabe o que é? A imprensa (ou alguma parte dela) faz o tipo que quiser. São formadores de opinião, mas as que são formadas a partir disso, não lhe conhecem. Quando tem a oportunidade do convívio, vê que as coisas não eram bem assim.
MB: Nesse convívio, deixou de ser polêmico e, consequentemente, sua imagem se desgastou menos?
L: O que vocês chamam de polêmicos são as pessoas que põem a cara na frente, que aparecem, e isso logicamente desgasta. Eu tenho um desgaste de 47 anos no futebol. Mas digamos que tem uma pessoa que não gostava de você com 18 e não gosta de você com 60. Eu critiquei esse cara há 50 anos, deixa eu pesar o que acho de ruim e o que acho de bom. E isso eu fiz com muita gente. Mas vejo muita gente não fazer...
MB: Em campo, você se considera adequado e com uma metodologia de trabalho moderna?
L: Claro que sou adequado. Fiquei um ano fora por opção e foi ótimo pra mim. Eu vi algumas coisas desses meandros da vida, que você tem que pensar, refazer, mas nunca mudar sua personalidade, mas moldá-la. Basta olhar para você: se o espelho vai te mudando dia a dia, por que o teu cérebro não faz a mesma coisa?
MB: Quando o Leão entendeu que era necessário viver uma nova fase na vida?
L: Basta você perceber a mudança. O ser humano não percebeu certos avisos que a vida e seu corpo mandam para você. Se não perceber, vai ser levado na correnteza na vida. Não vai se sentir feliz e sem felicidade não há vida.