Por ordem da diretoria, o jogador de 19 anos adotou o nome de batismo em vez do apelido dado por causa da semelhança com um ídolo do Corinthians e deslanchou, a ponto de já enfrentar duras críticas. Se foi considerado por Rogério Ceni a melhor revelação do clube desde Kaká, a comparação com o meia do Real Madrid se intensificou logo após a eliminação na Copa do Brasil, em maio.
Depois da derrota para o Avaí, o camisa 7 foi chamado de pipoqueiro, mesma alcunha atribuída a Kaká por causa do revés diante do Figueirense na mesma competição, em 2003. Na época, o meia, empresariado por Wagner Ribeiro - assim como Lucas -, deixou o clube logo na sequência. E é aí que está a diferença para a nova esperança da torcida.
Durante 22 minutos de conversa com a Gazeta Esportiva.Net, Lucas, entre constantes risadas tímidas, relatou todos os seus avanços nesta temporada e não tremeu diante de nenhum gravador, assim como garante que não fará no caso de torcedores entrarem no CCT da Barra Funda. "Vou criando anticorpos para me defender de qualquer coisa. Se for sair, será pela porta da frente", contou o atleta nesta entrevista exclusiva.

Gazeta Esportiva.Net: O que você tem a falar destes 17 meses como profissional? Até seu nome mudou...
Lucas: Mudou muita coisa na minha carreira. Primeiramente, a Seleção sub-20, a principal, me firmei com a camisa do São Paulo. Claro que gostaria de ter ganhado um título pelo São Paulo, ter disputado o título do Brasileiro, estar com a vaga na Libertadores, mas foi um ano muito bom para mim. Com apenas 19 anos, conquistei muitas coisas. E tenho certeza que no ano que vem vai ser melhor ainda.
GE.Net: Passa muito pela sua cabeça que há menos de um ano e meio você chegava aqui ao CCT da Barra Funda ainda na expectativa para ser relacionado?
Lucas: Passa um filme sempre. Foi tudo muito rápido. Cheguei sem conhecer ninguém, era o Marcelinho ainda, saía nas ruas e ninguém me conhecia, andava tranquilamente... De repente, virei titular, estava com a camisa da Seleção sub-20 fazendo gol na final do Sul-americano, com a camisa da Seleção principal depois, fui reconhecido nas ruas, tirei fotos, dei autógrafo... Foi uma mudança radical na minha vida. Mas tenho sempre os pés no chão, sei que preciso mostrar muito ainda e não deixo nada disso me atrapalhar porque sei que não conquistei nada ainda.
GE.Net: Quando você chegou, havia um jogador que fez você pensar "vou encontrar o cara"?
Lucas: O Rogério, né? É o grande ídolo da torcida do São Paulo. Jogar ao lado dele e trabalhar com ele é fantástico, uma honra. É um cara maravilhoso dentro e fora do campo, que me acolheu. Desde quando cheguei aqui, sempre conversa comigo, dá conselhos. Tê-lo ao lado é muito bom.
GE.Net: Pela sua projeção, você acha que os garotos em Cotia já pensam "vou subir e encontrar o Lucas"?
Lucas: (risos tímidos) Não sei, mas acho que não. Ainda tem grandes jogadores aqui, como o Rogério, o Luis Fabiano, todos consagrados. Não alcancei esse nível deles ainda. Um dia vou alcançar, se Deus quiser. Poxa, só atuar do lado deles é uma honra. Procuro ajudar os jogadores da base ao máximo, porque sei como é chegar tímido, acanhado, sem falar com ninguém.
GE.Net: Você chegou aqui bem mais tímido, já se soltou bastante...
Lucas: Bastante, já me enturmei com a rapaziada. Mas sou bem tímido, bem acanhado, fico bem quietinho na minha, principalmente em frente às câmeras.
GE.Net: Em que momento você se tocou que não era mais o Marcelinho que chegou aqui tímido, mas o Lucas, uma estrela do São Paulo?
Lucas: No ano passado, depois que fiz alguns jogos, como contra o Palmeiras [vitória por 2 a 0 no Pacaembu, com um gol e uma assistência dele], comecei a me mostrar, fazer gol. Eu ia para casa, ligava a televisão e estavam falando de mim como nova promessa do São Paulo. Comprava o jornal ou uma revista e tinha lá uma matéria falando de mim, como nova aposta. Já pensei "opa, agora o sonho está virando realidade. Estou conseguindo fazer o que sempre quis, chegar ao profissional e jogar". Foi quando percebi que as coisas estavam mudando.
GE.Net: Não é um azar subir em uma época na qual o São Paulo vive uma seca de títulos? Não seria melhor e mais tranquilo ter subido no momento em que o time ganhava título em todos os anos, mesmo se você não fosse titular?
Lucas: Não. Tudo tem sua hora certa para acontecer. Talvez se estivesse tudo bem com o time, ganhando títulos, eu não teria subido porque não teria razão para promover mais um da base. Tudo tem uma razão, nada é por acaso. Se subi nesta fase, é porque tinha que subir neste momento.
GE.Net: Mas você acabou já subindo com uma responsabilidade grande. Isso te ajudou ou prejudicou?
Lucas: Ajudou. Quando subi, apesar do momento, consegui mostrar meu futebol, que tinha capacidade e os torcedores poderiam confiar em mim. Nunca fujo da minha responsabilidade, sei que ela é grande e isso mostra que tenho talento. Não me preocupo.
GE.Net: Você sempre se disse preparado para ter sucesso entre os profissionais, mas, em entrevista que deu à GE.Net em agosto do ano passado, revelou que sentia medo de ficar nas categorias de base e passar a sua idade de subir...
Lucas: É que ficamos lá em Cotia e pensamos nisso. Sempre acreditei no meu talento, que um dia ia chegar minha hora. Mas vemos tantos jogadores de qualidade que chegam ao segundo ano de juniores, sem disputar os campeonatos das categorias de base, e ficam lá largados, emprestados para times de menor expressão. Apesar de eu acreditar no meu talento e que um dia ia realizar o sonho de chegar ao profissional, fiquei com medo: "poxa, e se passar e eu não conseguir, vou fazer o quê?". Isso me motivava a dar o melhor nos treinamentos e nos jogos para um dia chegar onde cheguei.
GE.Net: Logo que você estourou, o Rogério Ceni te considerou a maior revelação no São Paulo desde o Kaká. Esse elogio deu espaço a comparações. Hoje, você considera que aquela declaração foi boa ou ruim?
Lucas: Boa. Na época, me ajudou bastante. Ser comparado ao Kaká é um prazer, uma honra, um cara que já foi o melhor do mundo e campeão do mundo. O Rogério sempre me elogiou bastante e também sempre o elogiei porque é um exemplo de jogador, pessoa e atleta. Venceu tudo que tinha para vencer e ainda tem uma vontade imensa de vencer, uma ambição sempre maior do que a dos outros. Ele me ajudou bastante e eu só procurava fazer o meu melhor, ajudando o time e me divertindo jogando futebol, o que faço com prazer. Só quero estar em campo.

GE.Net: Na sua primeira entrevista à GE.Net, você cita que a torcida veio ao CCT em uma fase ruim do clube e você foi um dos mais apoiados. Neste ano, depois da eliminação na Copa do Brasil, te criticaram e fizeram uma comparação com o Kaká, que saiu chamado de pipoqueiro em 2003. Como você se sentiu? Acha que vai ficar cada vez pior?
Lucas: As cobranças irão aumentando por tudo que aconteceu na minha vida. Quando você chega de repente e se torna aposta do clube, está em todas as matérias e sites, com vários jogos acima da média, vai ser cobrado acima da média também. Se me cobraram muito neste ano é porque sou um jogador importante para o time, sou uma peça importante para a equipe. Claro que queríamos estar em uma fase melhor e ter conquistado a Copa do Brasil. Infelizmente, não veio. Mas a cobrança não mexe muito com a minha cabeça. Estou sempre focado, trabalhando para vencer.
GE.Net: Você sente que estaria preparado para um protesto como o enfrentado na saída do Luis Fabiano em 2004? Até o Rogério Ceni foi vaiado. Você está psicologicamente preparado para cobranças mais fortes?
Lucas: Nunca queremos passar por essa situação de vir torcedor ao CCT nos cobrar, é nosso local de trabalho. Queremos estar sempre vencendo, sabemos que futebol é feito de resultado, a torcida quer ver o time lá em cima, brigando por títulos. Envolve muita emoção. Se vierem me cobrar, converso numa boa, explico. O que tenho medo é de violência, essas coisas de quebrar carro, que colocam em risco a nossa integridade física. Disso tenho medo. Mas vamos correr e fazer tudo certo para que não aconteça isso no ano que vem.
GE.Net: Quando o Kaká enfrentou protestos, foi embora. Já você está garantindo que vai ficar, o clube banca a sua permanência, pessoas que cuidam da sua carreira te consideram com potencial para ser uma espécie de Marcos no São Paulo. É uma confiança para você dizer "não adianta vir para cima, vou continuar e provar para vocês que não mereço protestos"?
Lucas: Claro que sonho em jogar por grandes clubes da Europa e disputar os grandes campeonatos de lá, mas sou muito jovem e tenho muita coisa para mostrar. Se um dia eu sair do São Paulo, quero sair pela porta da frente, por cima, com título, bem com os torcedores para que eles possam sentir falta de mim. Neste momento que estamos passando, não muito bom para o clube, não é o momento certo para sair. Sou muito feliz aqui, tenho muitos amigos, gosto de morar nesta cidade, de jogar neste clube. E sou muito jovem. Quero sair quando estiver pronto, definir com a minha família e decidir que é hora de sair. No momento não é a hora, quero mostrar muito ainda.
GE.Net: Você já falou que o Rogério Ceni tem uma grande vontade de vencer e você parece ter também. Nos treinos, você demonstra ficar bastante bravo a cada erro...
Lucas: Sou bem perfeccionista e odeio perder. Não gosto de perder nem par ou ímpar. Se erro, vou tentar de novo até acertar. Gosto bastante de treinar e aprimorar um fundamento meu, seja um chute, um passe com a perna esquerda, um lançamento. Às vezes o treinador não deixa e fico bravo. Quero estar sempre treinando bastante, todos os dias, melhorando um fundamento.
GE.Net: Mas não é necessário ter alguém do seu lado para pedir calma?
Lucas: Quem faz isso principalmente é o preparador físico. Quando tem coletivo, queremos ficar lá chutando mais bolas e ele não gosta. "Pô, você acabou de treinar, está com a perna cansada, vai se machucar". Ele está sempre ali alertando, dando uns toques para não passarmos do limite. A vontade de aprender e melhorar um fundamento pode atrapalhar.
GE.Net: Nestes 17 meses, sua maior evolução foi a bola parada? O Leão tem cobrado bastante isso de você.
Lucas: Estou aprendendo bastante. Na base, eu sempre batia escanteio, falta. Aqui tem o Rogério, o Dagoberto, então eu não batia tanto. Mas meu principal ponto, além da velocidade, característica de carregar a bola e partir para cima, é a finalização de fora da área. Na base, eu fazia muitos gols de longa distância e por isso fico bastante tempo depois dos treinos finalizando bastante, tentando aprender. Até fiz uns gols assim e quero continuar fazendo.
GE.Net: Você já tem suas metas definidas para 2012?
Lucas: Sempre tenho metas. Para o ano que vem, quero ganhar todos os campeonatos que disputar. Não entro em campeonato apenas para competir, entro para vencer. Quero ser campeão, conquistar um título como profissional no São Paulo.
GE.Net: A Europa está mesmo fora dos planos?
Lucas: Não estou com essa cabeça ainda. Meu pensamento está aqui. Tenho que fazer meu papel e conquistar um título aqui. Na hora que eu tiver que sair, vou saber. No momento, estou muito feliz aqui.

GE.Net: Na base, você tinha medo de passar a hora de subir. Não bate esse mesmo medo de esperar um título para ser negociado e deixar passar a oportunidade de sair?
Lucas: Não. Tenho que jogar onde estou feliz, e estou muito feliz aqui hoje. Graças a Deus, não tenho o que reclamar. Tenho uma casa, um apartamento para a minha mãe, para o meu pai, tudo o que preciso para ser feliz e sobreviver. Sou feliz aqui. Dinheiro não é tudo na vida. Estou feliz no São Paulo e por isso continuo aqui.
GE.Net: Você parece ter mecanismos de defesa na cabeça para evitar a pressão. Um deles é "só tenho 19 anos"?
Lucas: Com certeza. Sou muito jovem, como falo sempre. Tem muita coisa para acontecer, muita trajetória, muito chão pela frente para terminar minha carreira. E um dos meus mecanismos de defesa é minha família, né? Está sempre comigo, me dando apoio, conversando. Sou um cara que escuto bastante meu pai e minha mãe, meus amigos, pessoas que me dão bons conselhos. Vou absorvendo isso para mim e criando anticorpos para me defender de qualquer coisa.
GE.Net: A má fase foi pior do que você imaginou?
Lucas: É sempre muito ruim não estar vencendo, né? Queremos estar sempre vencendo. De repente, você abre o jornal e vê uma crítica, com as pessoas começando a colocar em dúvida a sua capacidade. Fiquei triste, chateado. Mas não me abala de maneira alguma dentro do campo. Sei da minha capacidade, o que posso fazer pelo time. Estou sempre contente, alegre. Uma das minhas defesas também é estar sempre de bem com a vida, pensando positivo, nunca negativo. Sempre penso que vou voltar a jogar bem, ajudar a minha equipe e que nada vai me atrapalhar.
GE.Net: Então você segue o lema do Neymar: "ousadia e alegria"?
Lucas: (Gargalhadas) Também, mais ou menos por aí. Sempre com alegria, com personalidade dentro do campo, indo para cima, sem medo de errar, de nada.
GE.Net: O que essa amizade com o Neymar já te ensinou? Ele também foi um garoto que estourou muito rápido. Você o tem como um espelho ou ele te observa para absorver algo da sua personalidade?
Lucas: Se ele conseguiu tudo que conseguiu até hoje é por causa da personalidade dele. Tem um talento indiscutível, enorme. Temos o mesmo estilo não de jogo, mas de cabeça, sem medo de partir para cima, sempre encarando os adversários, com alegria de jogar, isso que é importante. Percebemos a alegria que ele tem de jogar, o prazer. Sou do mesmo jeito. Quando estou em campo, procuro me divertir jogando futebol. Nasci para fazer isso, é o que gosto de fazer sempre.
GE.Net: Você está preparado para ser o cara do São Paulo em 2012?
Lucas: Estou. Sempre falo que ninguém leva o time nas costas, o elenco todo é a maior estrela. Mas sempre tem aqueles apontados como o principal, então estou sempre preparado para ajudar, ser cobrado dessa maneira. Quanto mais cobrado sou, maior a motivação e o ego. Sei que quando sou mais cobrado é por ser o principal talento do time. Estou pronto. Sempre trabalhando firme com essa mentalidade de levar o São Paulo para a frente.
GE.Net: Você se sente um líder no elenco?
Lucas: Não tenho esse perfil de liderança, de chegar e dar uma palavra de motivação. Quem tem esse perfil é o Rogério, o Luis Fabiano, eles sabem a palavra certa para motivar as pessoas. Eu estou sempre ali animando a galera na hora do jogo, brincando, sempre alegre. Se eu falar uma palavra séria de motivação, ninguém vai me levar a sério.

GE.Net: Os jogadores falam que você é um piadista. Você pode contar a piada que mais gostou de fazer desde que virou profissional?
Lucas: (Gargalhadas) Pô, aí você me complica. Piada é só nos bastidores. Se sair em entrevista, não dá. As pessoas vão com certeza me zoar depois e falar que a piada é fraca.
GE.Net: Então conte alguns apelidos que você deu, é outra fama sua.
Lucas: Aqui no São Paulo tem vários. Tem Marina Silva, Solimões, do Rio Negro & Solimões. Vou soltar alguns... Não, só isso aí está bom.
GE.Net: E você tem algum?
Lucas: Não, não tenho nenhum não. Mas aqui ainda tem Patolino, Cabeça-Quadrada... Tem um monte.
GE.Net: O que você mais gostou nestes 17 meses?
Lucas: O que mais gostei? (demora a responder, pensativo) Pergunta difícil. Acho que... É complicado, mas acho que conquistar o título sul-americano com a Seleção sub-20, principalmente pelo jogo da final, por eu ter marcado três gols, com a camisa 10, como capitão, levantando a taça. E ter conseguido uma vaga nas Olimpíadas, que era o nosso objetivo. Foi o momento que mais marcou na minha vida.
GE.Net: Do que você se arrependeu?
Lucas: Não tenho arrependimentos. Sou um cara muito tranquilo, muito consciente de tudo que faço. Não tenho nada para me arrepender do que fiz neste ano.
GE.Net: O que faltou?
Lucas: Um título com a camisa do São Paulo, como profissional.
GE.Net: Você se sente celebridade?
Lucas: Como é que é?
GE.Net: Você se sente celebridade?
Lucas: Não, ainda não. Falta muito. Sou reconhecido nos lugares em que vou, mas não crio essa muvuca toda. Dá para ser bem discreto e andar tranquilo ainda.