A Operação Penalidade Máxima 2 tem posto à tona atletas envolvido em esquemas de manipulação no futebol brasileiro. O assunto tomou as páginas dos noticiários do país e, segundo o técnico Ney Franco, 'manchado' o esporte.
Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, o treinador, que trabalhou com Victor Ramos em Vitória e Goiás, e Paulo Miranda no São Paulo, em 2012, afirmou que ver o nome dos dois ex-comandados no escândalo o envergonhou.
"Você vê atletas conhecidos, não falamos só de jovens, tem veteranos. São pessoas boas, que convivi. Me surpreendi, no caso específico do Victor Ramos e do Paulo Miranda. São duas pessoas boas, de trabalho, de respeito. É uma situação desconfortável, principalmente a gente que está no meio do futebol e tem essa responsabilidade do esporte. Digo que é uma pancada no estômago estar passando por uma situação como esta", começou por afirmar.
"Eu vejo com muita tristeza esse fato, porque a gente se orgulha tanto do futebol brasileiro quando se fala de títulos, referência no mundo na parte técnica, tática, é o país que mais produz jogador para o futebol internacional. De repente, você vê o Brasil, não sei se é o primeiro país com esse escândalo aberto, vê o futebol que vangloria manchado. Está tendo uma mancha no nosso futebol e a gente vai ter que pagar por isso."
Banimento e preocupação com a baseO envolvimento dos jogadores com o esquema de apostas pode até resultar no banimento do esporte, de acordo com a Fifa. Para Ney Franco, além das punições que a Justiça Esportiva e até a Penal podem conceber, há a possibilidade de quem os atletas possam também fazer um trabalho de conscientização dentro das categorias de base como forma de pagarem pelos crimes.
"Eu confesso que tenho pensado nisso do banimento. Foram cometidos erros, então as penas, pelo que estudei, tem a reclusão, as multas. Assim, eu acho que o banimento é muito forte. É uma grande oportunidade e minha grande preocupação são os jogadores que estão sendo formado nas categorias de base do Brasil. Além de preparar o atleta na parte tática, física e emocional, esse é um assunto a ser tratado. A conscientização deles. Cabe também um trabalho voluntário desses caras. Depois de todo o processo de investigação, da denúncia e do julgamento, talvez seja uma possibilidade de usar alguns desses atletas dentro de um trabalho voluntário, principalmente nas categorias de base."
"Entenderia muito bem se a Justiça entendesse por um banimento. Porque é muito forte o esquema. Isso tem diferença na vida de muitas pessoas. Me coloco no caso de um treinador. Em um desses jogos estou na corda bamba, para cair. Um atleta se sujeita a fazer um pênalti, tomar um cartão. Estou citando exemplos de como uma decisão podem interferir dentro do clube. Que a gente consiga sair dessa situação, que haja uma punição na Justiça e que a gente possa fazer um trabalho de conscientização nas categorias de base para termos de mais caráter e éticos para não se envolverem em uma organização como essa, que é criminosa", completou.
Importância do trabalho psicológicoAlém da conscientização que os envolvidos nos esquemas podem ter como medida social voltar para a base, Ney Franco foi além e alertou para a importância do trabalho psicológico diário nos clubes para auxiliar e prevenir que os jogadores, desde a base, possam se envolver em situações como a que trouxe à tona o escândalo no futebol brasileiro.
"Eu tenho falado que o futebol se moderniza e precisa de profissionais qualificados. Foi assim que o preparador físico foi introduzido, o de goleiros ganharam espaço, os auxiliares, os analistas de desempenho. Nesse lado emocional e psicológico, é aí que os clubes devem abrir as portas para que esses profissionais possam atuar nos clubes, principalmente nas categorias de base. Em alguns momentos, o treinador está limitado ao trabalho técnico e tático. Por mais que a gente estude, leia livros, tenha formação, eu, no caso, fiz Educação Física, acho que os clubes precisam de ver abrir as portas para profissionais competentes e preparados para trabalhar com os garotos. Estamos falando de jogadores de 17, 18 anos que andam com celular e computador na mão. Na televisão, o que mais tem são propagandas de apostas, que é um convite para participar. A gente tendo profissionais qualificados para trabalhar esse aspecto seria muito interessante", finalizou.
Veja abaixo quais são os jogos que estão sob investigação na Série AJuventude x Fortaleza
Goiás x Juventude
Ceará x Cuiabá
Red Bull Bragantino x América-MG
Botafogo x Santos
Palmeiras x Cuiabá
Quais jogadores estão sendo investigados?Eduardo Bauermann (Santos)
Gabriel Tota (Ypiranga-RS)
Victor Ramos (Chapecoense)
Igor Cariús (Sport)
Paulo Miranda (Náutico)
Fernando Neto (São Bernardo)
Matheus Gomes (Sergipe)
Quais jogadores também foram citados no processo?Vitor Mendes (Fluminense)
RiCruzeiro)
Nino Paraíba (América-MG)
Dadá Belmonte (América-MG)
Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino)
Moraes Jr. (Juventude)
Nikolas Farias (Novo Hamburgo)
Jarro Pedroso (Inter de Santa Maria)
Nathan (Grêmio)
Pedrinho (Athletico-PR)
Apostadores e membros da organizaçãoBruno Lopez de Moura
Ícaro Fernando Calixto dos Santos
Luís Felipe Rodrigues de Castro
Victor Yamasaki Fernandes
Zildo Peixoto Neto
Thiago Chambó Andrade
Romário Hugo dos Santos
William de Oliveira Souza
Pedro Gama dos Santos Júnior
O que a Operação "Penalidade Máxima" investigaA investigação da Operação "Penalidade Máxima" aponta que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites do ramo.
Um jogador cooptado, por exemplo, teria a "função" de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida - normalmente uma derrota de sua equipe.
As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro.
Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.
A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação "Penalidade Máxima" para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.
Relacionado Quem são todos os afastados pelo escândalo de apostas no futebol brasileiro Operação 'Penalidade Máxima' vê suspeita de manipulação em jogos da Série A; Paulistão e Gaúcho também são investigadosNa primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B, mas os últimos acontecimentos levaram os investigadores a crer que o problema era de âmbito nacional e havia acontecido em campeonatos estaduais e também na primeira divisão do Brasileiro.
Além de Romário, outros sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público por participarem do esquema de fabricação de resultados: Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).
Algum jogador de futebol foi preso?Nenhum jogador preso, só pessoas envolvidas nos pedidos de manipulação. Foram três mandados de prisão em São Paulo, mas só para não atletas.
Foram apreendidas granadas de efeito moral em um mandado de prisão em São Paulo a armas de fogo em outro endereço, também em terras paulistas. Nesse local, houve também um flagrante de armas de fogo sem o devido registro.
Os atletas ou aliciadores podem ser indiciados via Estatuto do Torcedor e também podem responder por crime por lavagem de dinheiro, se for o caso. Segundo o Estatuto do Torcedor, a pena varia de 2 a 6 anos de prisão.
O que os jogadores faziam para manipular as partidas?Os atletas e envolvidos suspeitos estão sendo investigados por manipulação da seguinte forma: receber cartões amarelo ou vermelho, cometer um pênalti, garantir uma derrota parcial no 1º tempo, número de escanteios, etc.
O exemplo veio de cima. A corrupção foi aprovada pelo STF, é óbvio q o mesmo "direito" tem as quadrilhas no futebol e o mesmo CONSÓRCIO que apoiava a volta dos corruptos fica aí se fazendo de hipócritas.