O efeito São Paulo pode refletir mudanças no futebol brasileiro. Há quem garanta que, com o sistema por pontos corridos, o campeonato nacional ficará sempre nas mãos dos clubes mais bem estruturados. O reflexo disso seria o tricampeonato consecutivo do time tricolor do Morumbi. Para se obter êxito em uma competição de sete meses, com janela de transferência no meio, questões como centro de treinamento bem equipado e salários em dia são pré-requisitos indispensáveis. O Brasileiro, antes imprevisível, corre o risco de seguir os moldes europeus até no número reduzido de campeões.
O modelo atual no Brasil entrou em vigor em 2003. De 1971 a 2002, várias fórmulas foram testadas, sempre com finais - cada ano com critério e limite de participantes diferentes. Nesse período, o país conheceu nada menos do que 17 campeões em 32 edições. No sistema atual, quatro clubes levaram, sendo três de São Paulo (Santos, Corinthians e São Paulo), curiosamente o Estado tido como mais organizado do futebol brasileiro.
Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo, prefere não criar expectativa no torcedor são-paulino, mas não esconde que há uma vantagem para o clube se comparado aos outros. Pela disparidade atual, mesmo sendo elegante, crê na supremacia tricolor nas próximas temporadas.
"O São Paulo trabalha para o time, e não para o técnico. A diferença nossa é que ganhamos títulos e não temos contas a pagar. Tem clube por aí que gasta uma fortuna com um treinador, que depois sai e deixa um abismo, já que não havia ali estrutura para a instituição seguir sua vida própria", discursa Marco Aurélio, criticando nitidamente Vanderlei Luxemburgo e Palmeiras.
O superintendente não descarta a possibilidade de o Brasileiro viver à moda européia. Será campeão, observa, apenas quem tiver uma administração transparente e um forte CT. Nestes quesitos, ele considera o Rio uma praça atrasada. "Os dirigentes fazem uma festa, convidam todo mundo, e no fim não têm dinheiro para bancar. E passam vergonha. Esse modelo está falido", adverte o são-paulino.
Rio parado no tempo
Ney Franco, treinador do Botafogo, endossa as palavras de Marco Aurélio. Recentemente, ele sofreu na pele a queda de rendimento do Botafogo por conta de salários atrasados. Tanto é verdade que o departamento de futebol alvinegro está capenga que a nova diretoria estuda um contrato de parceria com a Traffic. Para Ney, o Rio tem um sistema deficitário.
"A tendência é o Brasileiro parar nas mãos de quatro, cinco equipes. Aqueles que se preparam terão vantagem. O Rio, por exemplo, precisa se mexer. Está muito atrasado. Tomara que o sucesso do São Paulo faça todo mundo rever sua gestão", alerta Ney.
Há os que ainda acreditam na força do time e da torcida. O tetracampeão Zagallo vê o São Paulo atravessando boa fase, e só. Da mesma forma como Cruzeiro (2003), Santos (04) e Corinthians (05) foram campeões, ele acredita que a qualquer hora o time tricolor possa ser superado.
"Os times vão se reforçar para tirar essa supremacia. Daqui a pouco, isso acaba", comenta.
Lutar contra o tempo perdido. Este é conceito dos clubes cariocas. Caio Júnior, ex-técnico do Flamengo, compara a estrutura de São Paulo com a do Rio lamentando o estado de abandono do futebol carioca quando se fala em patrimônio. René Simões, técnico do Fluminense, não fica atrás. E cita a ida de Ronaldo para o Corinthians como exemplo.
"Por que ele não ficou no Flamengo? Lá ele terá condições de trabalho e treinamento que o Flamengo certamente não tem para oferecer. Desse jeito, os clubes do Rio vão sofrer e deixar de brigar por títulos", destacou René.
Sob o aspecto de exploração das marcas, o calendário do futebol brasileiro vive seu melhor momento. Quem afirma é o consultor de marketing José Luiz Brunoro.
"Você começa o ano com os estaduais, que não podem acabar porque têm identidade. Paralelamente, vem a Copa do Brasil e a Libertadores, que são competições mata-mata. E nos sete meses restantes vem o Brasileiro, no sistema turno e returno por pontos corridos, o que dá, para o investidor, a exposição da sua marca mais da metade do ano. É, ao meu ver, um modelo perfeito", completou.
Hexa do São Paulo amplia "medo de hegemonia"
São Paulo conquistou as últimas três edições do Brasileiro
Fonte JB Online
14 de Dezembro de 2008
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