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Família Dorival: lembrado no Santos, vitorioso no Flamengo e consagrado no São Paulo, estilo "paizão" de treinador vive o seu auge

Ainda invicto no Tricolor, treinador vê estilo paciente e de diálogo com os jogadores render frutos no Morumbi

Foto: Lance!

Dorival Júnior mal tinha completado 15 dias no comando do São Paulo quando entrou no vestiário do CT da Barra Funda e encontrou seus jogadores cabisbaixos. Chamou Luciano, Arboleda, Calleri e Rafinha, líderes do grupo, e perguntou o que estava acontecendo. Ouviu relatos de cansaço. Pudera, o Tricolor tinha acabado de retornar de uma extenuante viagem à Colômbia, onde empataram em 0 a 0 com o Tolima, pela Copa Sul-Americana. E os atletas queriam uma reunião informal do elenco com direito a folga no dia seguinte, para cicatrizarem de vez feridas que estavam abertas, como o caso Marcos Paulo, a dispensa de Pedrinho, o clima de cobrança que ainda pairava sobre o Morumbi…

Pedidos semelhantes haviam sido negados por treinadores anteriores. Mas Dorival surpreendeu. Não só autorizou como prometeu bancar o churrasco caso houvesse uma vitória sobre o Internacional, no último dia 7, pela quarta rodada do Campeonato Brasileiro. E assim foi feito. Após os 2 a 0 sobre os gaúchos, o grupo deixou o estádio rumo a uma casa alugada na zona sul paulistana. E confraternizaram. Discutiram questões internas. Com folga prometida e cumprida pelo treinador, o encontro varou a madrugada. Nada de esbórnia. Mas sim um pacto de comprometimento. Nascia a família Dorival.

Em maior ou menor grau, a história foi confirmada ao LANCE! por diversas fontes. E mostra como uma das armas de Dorival para se manter invicto por 11 jogos no comando do São Paulo passa por sua capacidade de ouvir, compreender e estimular seus atletas. Um grau de liberdade e sinceridade no trato que o plantel são-paulino não via há pelo menos quatro anos. E que se tornou uma marca do atual comandante em seus trabalho.

Uma pessoa próxima do treinador ouvida pela reportagem diz que Dorival mudou o tom de seu relacionamento com os jogadores em 2010, no Santos. Na passagem como técnico da terceira geração dos "Meninos da Vila", se envolveu em polêmicas com os dois astros do plantel, Neymar e Paulo Henrique Ganso, tentou ser mais enérgico nas cobranças. E acabou demitido pela diretoria do time praiano sem colher os maiores frutos do trabalho que iniciou.

Havia se tornado um estigma de uma fofoca: Dorival linha-dura punia o elenco por conta de informações colhidas pelo filho Lucas Silvestre, seu auxiliar. Mera maldade plantada para diminuir seu trabalho. Mas suficiente para fazer pai e herdeiro pensarem em uma mudança definitiva de metodologia. O pai do Lucas seria, porque não, o pai de todo o elenco. Não caberiam mais fofocas. Era o estilo paizão que florescia.

A guinada veio no próprio Santos, em 2015. De volta à equipe litorânea, novamente com um grupo formado basicamente por jovens, Dorival surpreendeu no trato. A fama, não de linha-dura, mas de pouca paciência, foi destruída pela leveza do cotidiano. Veio um título paulista só, é verdade, em 2016, mas a figura de um ex-jogador que entendia os dramas do atleta, era paciente e até carinhoso se espalhou. E o treinador passou nos bastidores a ser elogiado.

Não era raro nessa época ver um Dorival sorridente em fotos, participativo nos bastidores do clube e sempre com ótima relação com os jogadores, como expunha vídeos da TV oficial do clube santista.

Dorival sabe proteger seu grupo, sabe lidar com os jogadores, tem diálogo, é a frase mais ouvida pela reportagem quando se pergunta qual a razão para o sucesso são-paulino. E o formato paternalista tem um ponto. Se há frustrações pessoais dele por não ser mantido em trabalhos de longo prazo vitoriosos, então que haja a vitória pessoal de conquistar o coração dos atletas.

O Flamengo do ano passado foi quando o treinador uniu o útil ao agradável. Na Gávea, Dorival encontrou um elenco completamente em crise e insatisfeito pelo jeito frio com que o português Paulo Sousa o tratava. Implantou o método "paizão", que nomes como Gabigol, Thiago Maia e Bruno Henrique já conheciam. E faturou dois títulos.

A demissão do clube carioca apontou que o caminho de Dorival era a chave do sucesso. Por mais que a diretoria rubro-negra tenha menosprezado seus métodos, o estilo caiu como uma luva em um São Paulo que vivia encurralado nas crises de relacionamento do antecessor Rogério Ceni com o grupo. Seja nas decisões táticas, seja no trato diário. Havia algo de ruim no ar. E o método "paizão" caiu como uma luva em um grupo que parecia sem rumo. Foi inclusive um dos pontos que motivaram a troca de comando.

E como isso funciona pelos lados do Morumbi? Em praticamente todas as entrevistas que deu desde que assumiu o cargo o treinador ressaltou que recebeu uma boa herança de Ceni. Não é força de expressão de um bom mocismo. Uma mera política de boa vizinhança. Não há tempo hábil para mudanças táticas significativas pelo calendário acirrado e as sequências de viagem. E o primeiro passo foi mesmo o trato cotidiano.

Pessoas que trabalham no CT da Barra Funda relatam um ambiente muito mais aberto ao diálogo. Dorival conversa, pergunta sugestões, questiona sobre a satisfação dos métodos de atuação e dá liberdade. É franco e objetivo nos métodos.

Assim Dorival superou os dois princípios de crise que ameaçaram bater em sua porta no Tricolor. Alexandre Pato estava descartado por Ceni. Mas o cotidiano do atacante, que se aproximou dos mais jovens e age como um conselheiro, cativou o treinador, que bancou sua contratação.

O outro problema atendeu pelo nome de Felipe Alves. O goleiro chegou a ser afastado. Mas após diálogo interno, como as coisas estão sendo resolvidas no clube, acabou reintegrado.

Com a diretoria, Dorival também joga limpo. Aproximou Muricy Ramalho e Milton Cruz, escanteados pelos antecessores, mas que possuem certa relevância para os jogadores. Principalmente o ex-treinador, respeitado pela sua história.

São atitudes que, somadas, resultam na invencibilidade de 11 jogos do treinador, a maior de um técnico do São Paulo no século, feito que já assegura um lugar na história do São Paulo. Ou melhor, assegura um lugar para toda a família Dorival. Mais do que frases prontas de efeito, é no trato que Dorival e sua simplicidade garante a "cabeça fria e o coração quente" para mostrar "que aqui é trabalho, meu filho".


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Comentários (3)
31/05/2023 22:27:29 Aguinelo Barbosa

são Paulo agora tem um profissional competente para ficar 5 anos no comando se a CBF deixar espero que não chamem ele pra seleção brasileira.

31/05/2023 18:46:50 MarcosYuji

Parece um método simples e óbvio, mas espero q os fatos sejam esses mesmo. Esse negócio de escantear o Muricy é uma coisa muito tola, qse inacreditável. Aliás, o estilo apresentado no texto me faz lembrar de um momento curioso, qdo o Aluisio boi bandido fez um gol e foi dar uma voadora no velho Muricy kkkk. Aquilo me indicou que o Muricy, por mais que tenha fama de carrancudo e cobrador de profissionalismo, é, na verdade, um cara muito brincalhão e querido pelas pessoas. Isso é essencial. Profissionalismo e capacitação precisam estar alinhadas com forte inteligência emocional e bom caráter. Nenhum negócio vai decolar se as pessoas não confiam em vc

31/05/2023 17:09:37 Paulo Nogueira

Acho que termo paizão é pejorativo, ele bom e tem como ponto forte a gestão de pessoas, simples assim.

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