A demissão de Muricy Ramalho causou comoção em parte da torcida do São Paulo. Tanto que até mesmo o Palmeiras pediu a presença de uma base comunitária móvel da Polícia Militar na terça-feira em frente ao seu CT por temer protesto dos vizinhos. Nesta quarta-feira, porém, o substituto Ricardo Gomes encontrou apenas seis quietos torcedores na porta de seu novo local de trabalho. E muito apoio internamente.

Os mesmos dirigentes que estiveram na despedida do antigo técnico no sábado formaram uma espécie de esquadrão para dar confiança ao sucessor. Ricardo Gomes caminhou para sua primeira entrevista em dependências tricolores com fisionomia séria. Às suas costas, estavam o presidente Juvenal Juvêncio; o vice-presidente de futebol Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco; o diretor de futebol João Paulo de Jesus Lopes e o superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha, Todos risonhos e `reforçados` com a presença de Raí, um dos maiores ídolos do Morumbi e amigo pessoal de Ricardo.

A força passada pelos chefes, porém, não é suficiente. Diante de 22 câmeras de televisão e quase 80 pessoas acompanhando a apresentação, o novo comandante do São Paulo já avisou que vai apelar para os conhecimentos de Muricy Ramalho, contestado por dirigentes e conselheiros no Morumbi apesar de ter levado o clube ao tricampeonato brasileiro consecutivo, feito inédito na história do torneio.

"Vou tentar conversar com ele o mais rápido possível. Já falamos muito em 2007 sobre contratações. Eu estava no Monaco e perguntei de brasileiros e ele de brasileiros que estavam na Europa. Mas sei que a saída dele foi difícil para todo mundo: para ele, para a torcida, a diretoria. Não é fácil para ninguém. Vou procurá-lo quando ele estiver disponível", prometeu Ricardo, encarando com naturalidade a reação da torcida, que até criou o site www.voltamuricy.com.br.

"O Muricy fez história no clube. Foram três anos de um trabalho excelente. Ainda bem que a torcida do São Paulo reconheceu isso e não hoje, mas em todo este prazo que ele ficou aqui. Ele fez por merecer. São raros os que conseguem este apoio aqui no Brasil", enalteceu o novo técnico.

Nos bastidores do clube, no entanto, Muricy já é passado. Pouco depois da demissão do treinador que estava no time desde janeiro de 2006, os dirigentes retomaram as conversas com Ricardo Gomes, que já havia sido tentado pela equipe em 2003. Ao ouvir um "sim"sem titubeação, a diretoria passou a trabalhar em busca de apoio da torcida.

Na véspera de sua apresentação, o site oficial já colocava uma entrevista em que Kaká, comandado por Ricardo Gomes em torneios amistosos da seleção pré-olímpica em 2003, exaltava o técnico. Nesta quarta-feira, foi a vez de Raí dar até uma entrevista coletiva para dar força ao treinador que não deixou saudades em seu último clube, o Monaco - sua chegada ao São Paulo, até o momento, é ignorada pela imprensa francesa.

"É raro passar três anos e meio em um clube, e o Muricy teve um ciclo de trabalho com louvor. Mas agora começa outro ciclo. Estou aqui como embaixador. O Ricardo e o Leonardo são os jogadores mais inteligentes que já conheci. Tem a cabeça boa, novas ideias. Também vai fazer história. Tem minha confiança por seu caráter, tem o perfil do São Paulo em termos de valores humanos", discursou Raí. Em retribuição, Ricardo Gomes elogiou o ex-meia e também Kaká.

E foi com Muricy já esquecido que o São Paulo iniciou o que todos não cansaram de definir como "novo ciclo". "O Ricardo dispensa apresentação, mas formalmente precisa de uma palavra. Nos agrada sua postura e sua vivência no futebol europeu. Foi um atleta correto, eficiente, com liderança. Tem uma trajetória esportiva de grande ressonância. Sempre falávamos aqui e acolá, mesmo em um contato longínquo. Todos depositamos muita confiança nele. A torcida pode ter certeza que é mais um ato de justeza que o São Paulo faz", garantiu Juvenal Juvêncio.