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Waldir Peres - por Mauro Beting

Eu só torci uma vez por você. E foi maravilhoso. Mesmo que eu preferisse na estreia da Copa de 1982 o ex-goleiro do meu time no seu lugar (o gremista Leão). Você falhou horroroso no primeiro torneio em que estivemos do mesmo lado, no tiro longo de Bal. 1 a 0 para a URSS. Mas o Brasil de Telê virou lindo como jogava aquele time que não ganhou o Mundial, mas conquistou o mundo há 35 anos (veja como no belo documentário de Dudu Magnani na ESPN – ''Aos Campeões'').

Você não poderia ter defendido o golaço da Escócia na nova virada por 4 a 1. Não levou gol da Nova Zelândia nos 4 a 0. Nos 3 a 1 na Argentina, outro tiro no ângulo, de Ramón Diaz, e belas defesas garantiram a vantagem do empate contra a Itália, no Sarriá, em 5 de julho… Quando Paolo Rossi cabeceou uma bola sem defesa para abrir o placar. Quando Paolo Rossi fez 2 a 0 em tiro forte da entrada da área. Quando Paolo Rossi aproveitou novo vacilo individual para acabar com um sonho.

Você não tinha o que fazer, Waldir. E eu voltei a nunca mais torcer por você. No São Paulo, América, Guarani, Corinthians, Portuguesa, Santa Cruz, e de volta ao berço na Ponte Preta. Claro que eu era Brasil em 1974, quando você foi o terceiro goleiro do quarto colocado na Alemanha. Eu era Brasil em 1978, quando você foi o reserva de Leão e não perdemos na Argentina, quando acabamos terceiros. Eu torci muito por você naquela excursão na Europa, em 1981. Quando vencemos a Inglaterra pela primeira vez em Wembley, ganhamos da França e da Alemanha, quando você defendeu dois pênaltis do Breitner.

Nunca vi um goleiro como você nos pênaltis. Você não foi o que melhor defendia pênaltis. Mas foi o melhor para azucrinar os batedores. Na decisão do SP-75, contra a Portuguesa, o Dicá refugou na primeira cobrança porque sabia que você se adiantava. Não adiantava tentar bater. Na segunda, você mandou bem e defendeu. Na cobrança do Wilsinho, ele deu uma paradinha e isolou a bola. Coisa e culpa sua. Como você fez ao atazanar o Tatá na cobrança dele, correndo ao lado do centroavante da Lusa quando ele estava buscando a bola. Na hora de bater, você defendeu com os pés no meio do gol e o São Paulo foi campeão estadual.

E seria brasileiro pela primeira vez graças a você. No tempo normal e na prorrogação da final do BR-77, em março de 1978, no Mineirão, você segurou bem o melhor time do campeonato. O Atlético megafavorito. Vice-campeão invicto muito por sua causa.

Getúlio, ex-Galo, bateu o primeiro pênalti que João Leite defendeu. Enquanto o Mineirão festejava, você se posicionava na marca penal, esperando o batedor rival só para tirá-lo do eixo. Arnaldo César Coelho o tirou dali. Pediu para você não adiantar. Não adiantou. Você continuava apoquentando os batedores atleticanos. Toninho Cerezo mandou por cima, no canto esquerdo, onde você pulou.

Chicão, futuro atleticano, escorregou no enlameado gramado quando bateu o dele. João Leite acertou o canto e encaixou a bola. Ziza, cobrador oficial do Galo, mandou alto, à direita. Você acertou o canto. Mas não tinha como. 1 a 0 enfim para o Atlético.

Peres, que não era Waldir, bateu no canto direito, o ótimo João Leite ainda tocou, mas o São Paulo empatou. Alves mandou a bomba no meio do gol, e você preferiu cair à esquerda. 2 a 1 Galo. Antenor encheu o pé e empatou. Joãozinho Paulista mandou por cima a bola que você nem viu, caindo para o outro lado. Aliás, ninguém mais viu. Demorou um tempão para ela voltar para Bezerra marcar o terceiro gol tricolor, no canto esquerdo de João Leite, que quase defendeu.

Na última cobrança da série, o zagueiro alvinegro Márcio. E você enchuriçando o batedor adversário. Passando a mão na cabeça dele, falando bobagem, enervando ainda mais o rival.

8min18s depois do chute de Getúlio, Márcio não só mandou para fora do gol. Mandou por cima. Você foi para o outro lado. Mas, em seguida, todos os são-paulinos foram para o seu lado te abraçar na entrada da área. Na entrada do São Paulo na zona de títulos além de São Paulo. O primeiro dos seis nacionais. E viriam mais três Libertadores (a primeira também nos pênaltis) para o São Paulo a partir de 1992. Mais três Mundiais. Muito mais títulos. Alguns até com goleiros melhores do que Waldir, como Zetti e Rogério.

Mas o primeiro Brasileiro foi do goleiro que nem precisava sujar a roupa para lavar a alma tricolor. Nem precisava pegar os pênaltis para ser temível como foi no Mineirão.



Como seria na semifinal do SP-78, quando viu uma bola de Jorge Mendonça bater duas vezes no travessão e não entrar. Assim era Waldir Peres. O goleiro que não me deixou gritar gol na final do SP-73, no Morumbi. Saí do estádio bicampeão brasileiro. Mas frustrado pelo empate sem gols apenas porque Waldir foi o goleiro elástico de sempre. De defesas de muito reflexo. Algumas impossíveis para aquela figura que, à distância, não inspirava tanta confiança.

Mas que, de perto, quem o enfrentou sabe muito bem. E quem foi muito bem defendido por ele sabe ainda melhor. O que sei é que não era fácil escutar o Fiori, o Osmar e o Silvério narrando defesas do Waldir naquelas bolas que não entravam a partir de 1976. Não era fácil ver o Solera, o Silvio Luiz, o Luciano, o Galvão, o Noriega e o Cicarelli narrando tantas defesas e títulos do goleiro do São Paulo.

Waldir, só torci mesmo por você num maravilhoso sonho de verão europeu em 1982. De 1973 até o final de sua carreira, em 1989, sempre torci contra. E, desde 1976, você foi um dos caras que impediu meu time de ganhar qualquer coisa até você pendurar suas luvas vencedoras.

Fosse só torcedor, não gostaria de você. Sendo jornalista e pesquisador do futebol, só posso admirar você.

Se já dói demais saber de sua partida, imagine a de quem teve a honra de ser defendido por você.

Os adversários costumam saber o tamanho dos rivais. Posso te dizer, Waldir, aqui do outro lado da arquibancada.

Você é gigante.

Qualquer time que começasse com Waldir Peres tinha grandes chances de terminar muito bem.

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